Castello di Miramare em Trieste, o monumento mais fotogênico da cidade
Fiquei pensando em como explicar para vocês as minhas impressões sobre Trieste e me vieram em mente os versos do poeta Umberto Saba, nascido na cidade: “Trieste ha una scontrosa grazia. Se piace, è come un ragazzaccio aspro e vorace, con gli occhi azzurri e mani troppo grandi per regalare un fiore.”
Em português, a tradução seria algo como: “Trieste tem uma graça impertinente. Se agrada, é como um garoto amargo e voraz, com olhos azuis e mãos muito grandes para presentear uma flor.”
Seria supérfluo comentar a poesia. Me limito a dizer que para curtir Trieste é preciso ir além de sua aparente austeridade, apreciar a sua multiplicidade cultural e o seu passado difícil de terra de fronteira.
A sua peculiaridade é evidente logo de cara; na paisagem que se divide entre o mar azul e montanhas do planalto Cársico escondidas pela neblina, nos cartazes bilíngues, na mistura de idiomas e fisionomias.
Localizada no nordeste do país, na região do Fiuli Venezia Giulia, Trieste foi um lugar de encruzilhadas. De cidade litoral do Império Austro-Húngaro, foi ocupada pelo Reino da Itália, pela Alemanha, pela Jugoslávia de Tito, por anglo-americanos e, enfim, devolvida (“mutilada”) ao estado italiano.
Trieste, por esse motivo, é um verdadeiro melting pot e considerada uma das cidades mais europeias da Itália.Um dos primeiros lugares que visitamos por lá foi o Castello di Miramare, cartão postal da cidade. Estima-se que, todos os dias, o edifício receba uma média de 700 visitantes. Chegando lá a gente entende perfeitamente porque o castelo é motivo de orgulho desenfreado entre os moradores da cidade.
Situado em uma posição estratégica, no alto de um promontório de frente para o mar, o Castello di Miramare é extremamente fotogênico e o melhor lugar de Trieste para você sentir La Bora, o vento frio que sopra por lá.
O castelo fica na baía de Trieste, a cerca de 8km do centro e, do lado de fora, fiquei encantada com a paisagem formada por jardins extremamente bem cuidados e a vista do mar Adriático.
Vale a pena sentar por lá e perder alguns minutos admirando o cenário. A água esverdeada é tão limpa que você consegue enxergar vários peixes por lá.
Não é de estranhar o fato que o castelo, na verdade, tenha sido construído como residência de veraneio para o arquiduque Maximiliano Hasburgo. Quem não gostaria de passar o verão em um lugar fresco e com uma vista incrível?
O pior é que ele não teve muito tempo para desfrutar do castelo, já que trabalhando como comandante da marinha austríaca, foi assassinado no México alguns anos depois.
Ele renunciou à Marinha para aceitar a oferta de Napoleão III de ocupar o trono mexicano e pagou a escolha coma própria vida. Por conta disso, sua esposa, Charlotte da Bélgica, acabou enlouquecendo.
No interior do castelo fica um museu com a mobília original da família e mais de vinte salas decoradas com móveis, peças de decoração, obras de arte, roupas e objetos preciosos provenientes das viagens de Maximiliano para diferentes lugares do mundo. Em 1959, ele esteve, inclusive, no Brasil e em uma das salas do castelo você encontrará um retrato de Dom Pedro II.
A visita é uma viagem no tempo e depois de explorar o Castello di Miramare você se pergunta porque demorou tanto tempo para conhecer Trieste. Bastou pronunciar as palavras “prazer em conhecê-la” que a cidade me abriu um abraço comedido, mas sincero.
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