Civita di Bagnoregio: a cidade que morre aumenta tarifas para turistas
Imaginem o vilarejo italiano ideal. Aquele com casas históricas com janelas repletas de gerânios floridos. Acrescentemos o gato preguiçoso na sacada. Uma praça só para pedestres, onde crianças andam de bicicleta e turistas saboreiam um aperitivo. Vizinhos que ainda se cumprimentam. Um panorama de tirar o fôlego, quase irreal. O cenário que pode parecer utopia é aquele de Civita di Bagnoreggio. Localizada na província de Viterbo, a cerca de 130 km da capital, a cidade parece suspensa no ar.
A primeira vez que estive lá foi no início de 2001 e desde então voltei várias vezes. Anos atrás, logo depois das filmagens da novela Terra Nostra 2, Civita tornou-se um lugar famoso entre os brasileiros. Naquela época escrevi uma matéria para a Folha de São Paulo sobre a cidade.
Civita fica no alto de uma colina de 443 metros acima do nível do mar e o único elemento que une o burgo até o vilarejo de Bagnoregio é uma ponte de cerca 300 metros que, salvo exceções, só pode ser percorrida por pedestres. Essa travessia antes tinha um custo simbólico (1,50 euros), mas desde o mês de agosto de 2017 uma novidade pegou muitos turistas de surpresa. Desde então é preciso pagar um ingresso mais caro para entrar no vilarejo. As tarifas foram estipuladas em cinco euros.
A prefeitura da cidade temia uma drástica redução no número de visitantes mas em vez dos 740 mil turistas do ano passado, Civita estima receber uma média de 850 mil pessoas até o final de 2017.
O que chama a atenção é a paisagem que circunda Civita, formada pelo Vale dei Calanchi. Os “calanchi” são altas rochas de argila, pouco cobertas de vegetação e de forma levemente ondulada, esculpidas continuamente pela erosão. O local é antiguíssimo – fundado pelos etruscos há mais de 2500 anos – mas é chamado de “a cidade que morre” por causa dos deslizamentos de suas encostas de argila e calcário.
Com o passar dos séculos seus habitantes foram abandonando o vilarejo e ainda hoje a cidade possui menos de dez habitantes. Foi somente nas últimas décadas que Civita transformou-se em uma meta turística muito procurada, principalmente por estrangeiros.
Ciculando pela cidade, não encontramos o degrado típico de destinos de turismo de massa, mas um burgo que soube revitalizar-se e onde existe o respeito recíproco entre moradores e visitantes.
Antes de atravessar a ponte que nos leva de volta ao estacionamento, viramos para dar uma última olhada à Civita, confirmando a nós mesmos que aquela cidade existe realmente. O cenário mágico ainda está lá e, pelo menos por alguns instantes, somos parte dele.