Etruscos. A genial civilização que, com a Tomba della Quadriga Infernale, inspirou até a alta moda
Etruscos. Uma civilização tão genial que até hoje é fonte de inspiração para o mundo da arte, da moda e da arquitetura.
Para nós, brasileiros, nascidos em um país com uma história relativamente recente se comparada àquela de outras nações europeias ou orientais, é difícil até traçar uma linha temporal e encaixar nela o povo que ocupou a península itálica a partir do século IX a.C.
Os etruscos foram pioneiros em muitos setores. Viveram na Etrúria, região da Península Itálica, atualmente equivalente às regiões do Lazio, da Úmbria e da Toscana. Ali fundaram cidades-estados com cultura e costumes próprios e grande propensão ao comércio. Eram hábeis artesãos e já fundiam metais para realizar joias e esculturas.
Possuíam exércitos, uma frota naval, permitiam a participação feminina na vida pública e são considerados os grandes arquitetos da Antiguidade, já que que deixaram templos, túmulos e necrópoles.
Você já deve ter ouvido falar de necrópoles como aquelas de Tarquinia e Cerveteri, no Lazio, ou aquela de Populonia, na chamada Costa degli Etruschi, na Toscana.
O que nem todo mundo sabe é que na Valdichiana Senese, zona no sul da Toscana conhecida principalmente por suas colinas cenográficas, também é um concentrado de vestígios etruscos.
O lugar conserva intacta a memória de uma civilização culta e fascinante que atravessou os séculos e, de uma certa maneira, se tornou eterna. Além do Museo Nazionale Etrusco, na cidade de Chiusi, governada por Lars Porsenna, soberano da Etrúria que chegou até a ordenar a construção de um mausoléu e de um labirinto para esconder seu tesouro, se você é um amante da arqueologia não pode deixar de conhecer Sarteano.
Nesse vilarejo dominado pelo seu castelo, em 2003 aconteceu uma descoberta que entrou para a história da Etruscologia. Era outubro e um grupo de arqueólogos estava escavando a chamada Necropoli delle Pianacce quando descobriram um túmulo do século IV a.C recoberto de afrescos e intitulada Tomba della Quadriga Infernale. Um exemplo único pela vivacidade de suas cores, pela originalidade das figuras e pelo seu excelente estado de conservação.
Visitar essa raridade é uma experiência que chega a causar uma certa sujeição. Quando a gente pensa no requinte de uma civilização que influenciou em vários aspectos a cultura romana, o respeito é obrigação. Por esse motivo, a visita à Tomba della Quadriga Infernale só acontece com a presença de uma arqueóloga, com horário marcado e em pequenos grupos.
Encontramos a arqueóloga em uma manhã de agosto, junto com ouros visitantes italianos e estrangeiros. Me surpreende a maneira protetiva com a qual ela se refere e explica cada detalhe do afresco, como quem descreve um parente querido.
A “tomba etrusca” esculpida na rocha calcária de travertino, foi descoberta a cinco metros de profundidade do solo. Como é tradição em uma necrópole etrusca, um corredor externo de 19 metros (dromos) conduz os visitantes até uma porta. Depois de abri-la, um segundo corredor de sete metros antecipa uma sala quadrangular, o túmulo, e 20 metros de pinturas, todas do lado esquerdo.
A arqueóloga sublinha que, provavelmente, em época medieval o túmulo foi transformado em casa porque ali foram encontradas cerâmicas e utensílios típicos de uma cozinha. Infelizmente, o uso de uma espécie de picareta para adaptar o local comprometeu em parte um de seus afrescos.
Para evitar novos danos, a entrada só será permitida a cada duas pessoas por vez e por um tempo muito limitado. No interior da “tomba” é necessário manter uma temperatura e um nível de umidade controlados porque até a nossa respiração pode influir e danificar essa a obra.
Como quem aguarda um prêmio depois da espera, superamos a porta que separa dois mundos; aquele externo e aquele que representaria a vida após a morte. O ar é frio. O olhar é imediatamente capturado pelo vigor cromático das cenas no interior da Tomba della Quadriga Infernale. Uma “quadriga” é uma espécie de carroça puxada por quatro cavalos, como aquela no alto do Terraço do Vittoriano,no Altare della Patria, em Roma.
Rodeada por uma nuvem negra que representa a escuridão do além, na cena da Quadriga Infernale a carruagem puxada por grifos e leões é guiada por Charun (Caronte), a figura da mitologia grega que transporta as almas do mundo dos vivos para o mundo inferior. Com os olhos arregalados e cabelos avermelhados, parece acelerar para cumprir com prazer o seu papel. Ele está posicionado na direção da porta do túmulo, como quem pretende amedrontar aqueles que pretendem violar o local.
Mais adiante, os afrescos retratam dois homens em um banquete – pai e filho, um claramente mais idoso, outro mais jovem, ou talvez dois amantes finalmente reunidos que trocam um gesto de afeto. Ambos têm o tórax descoberto e um deles tem uma barba e rosto muito expressivo.
No fundo da sala fica um sarcófago de alabastro e a cena de uma serpente com três cabeças para afastar espíritos malignos.
Esse afresco inspirou, inclusive, os vestidos de uma famosa marca italiana de alta moda e foram usados por celebridades durante uma edição do Grammy Awards, em Los Angeles.
Para admirar com calma toda a beleza dos afrescos, graças a uma tecnologia avançada, o Museo Civico Archeologico de Sarteano apresenta uma sala onde reproduz de maneira fiel e diretamente sobre a parede em gesso, os desenhos presentes no interior da “toma etrusca”. O efeito é surpreendente e supera a ideia de um clone do original. O local também reúne um vasto acervo de raras peças e joias etruscas.
A visita guiada à Tomba della Quadriga Infernale acontece aos sábados, de junho a setembro, às 9h30 e 18h e nos outros meses às 11:30, com a compra de ingresso antecipado, que custa 8 euros e inclui a possibilidade de explorar o Museo Civico Archeologico de Sarteano.
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