
Giardino di Ninfa, o jardim italiano com efeito “impressionista”
Esse ano finalmente conseguimos visitar o chamado Giardino di Ninfa, jardim declarado monumento natural da região do Lácio que só abre ao público entre os meses de abril e a primeira semana de novembro.
Estive lá no dia de reabertura, 1° de abril, e acredito que a primavera seja a estação ideal para admirar as belezas do local. As diversas variedades de plantas já estão floridas e as temperaturas ainda são agradáveis.
Situado na província de Latina, a cerca de 80 quilômetros de Roma, o lugar possui fama internacional porque é um jardim histórico que mescla belezas paisagísticas e ruínas romanas. O nome Ninfa deriva de um templo localizado nos arredores do jardim e dedicado às náiades, na mitologia grega ninfas aquáticas com o capacidade de cura e poder sobre as águas.
No século VIII, a área que hoje é conhecido como o Giardino di Ninfa foi doada pelo imperador bizantino Constantino V ao Papa Zaccaria. O território passou a ser uma propriedade pontifícia e revelou-se um presente e tanto. Além de muito fértil, a zona compreendia a Via Pedemontana, a única estrada que unia Roma ao sul do país quando a Via Ápia estava inacessível, recoberta por pântanos.
Com o passar do tempo Ninfa transformou-se em cidade e foi governada por diversas famílias potentes. A situação só mudou em 1298, quando o Papa Bonifacio VIII, da família Caetani, ajudou o próprio sobrinho, Pietro II Caetani, a comprar Ninfa e outras cidades limítrofes. Vale lembrar que, em italiano, a a palavra sobrinho se diz “nipote” e daí deriva o termo “nepotismo”, prática comum naquela época.
A família Caetani dominou o território por sete séculos e além de ampliar o castelo de Ninfa e a sua característica torre, Pietro Caetani também ordenou a construção de um palácio chamado Palazzo Baronale. O período de prosperidade, no entanto, foi interrompido em 1382. Ninfa foi saqueada e ninguém decidiu reconstruí-la. Seus arredores foram atingidos pela malária e só algumas igrejas locais continuaram a ser frequentadas.
Bem mais tarde, no século XVI, outro descendente da família, o cardeal Nicolò III Caetani, amante da botânica, decidiu construir em Ninfa um jardim delimitado por muros em proximidade da fortaleza medieval de Frangipane. Na época ali foram cultivadas frutas cítricas e cultivadas trutas de origem africana.
Com a morte do cardeal o jardim foi novamente abandonado e só no final de 1800 os descendentes da família Caetani e principalmente Ada Bootle Wilbraham, mulher de Onraro Caetani, investiram para recuperar o que restava do jardim.
Ada projetou um jardim de estilo romântico, eliminou os pântanos, plantou os primeiros ciprestes, carvalhos, faias e rosas, restaurou ruínas e transformou o Palazzo Baronale na sede de uma fundação cujo objetivo é promover e preservar o Giardino di Ninfa.
Durante a Segunda Guerra Mundial a família Caetani procurou abrigo no castelo de Sermonetta e nos jardins os soldados alemãos escondiam as próprias munições.
A última herdeira e jardineira foi Lelia, filha de Roffredo Caetani, que com dedicação transformou o Giardino di Ninfa em uma “pintura”. Ao visitá-lo, a combinação de lagos espelhados, flores delicadas, plantas imponentes e cores tênues nos dão a sensação de estar dentro de um quadro impressionista que poderia ter sido pintado por Monet ou Renoir.
O lugar é composto por cerca de 1.300 espécies de plantas como magnólias, íris-amarela, rosas, camélias, cerejeiras, macieiras, plantas ornamentais, um raro bordô-japonês, uma selva de bambu, abacateiros, bananeiro e outras variedades tropicais e amazônicas.
Passear pelo Giardino di Ninfa é uma experiência e tanto para quem tem paixão pela fotografia. O cenário composto pelas plantas em meio a ruínas milenares e circundado pela beleza das montanhas Monte Lepini é um convite para admirar os detalhes. Observar a perfeição de cada pétala, a infinidade cromática das plantas, o reflexo das árvores sob o lago fará você voltar para casa com aquela sensação – infelizmente passageira – de que o mundo é mesmo mágico.