Itália mantém restrições para viajantes provenientes do Brasil
O anúncio que muitos brasileiros esperavam – a eventual reabertura das fronteiras italianas para turistas – na Itália não virou notícia. No último dia 22 de outubro, o ministro da saúde, Roberto Speranza, assinou uma “ordinanza” (ordem), que na prática não prevê grandes alterações nas regras que, desde julho de 2020, proíbem o ingresso no país de viajantes que tenham transitado no território brasileiro nos quatorze dias anteriores, salvo algumas exceções.
O que muda? Muito pouco. Brasil, Índia, Sri Lanka e Bangladesh, que até então eram considerados “países submetidos a medidas especiais” passam a ser equiparados a maioria das outras nações extra União Europeia, aquelas do Grupo E. Nesse caso, as regras são as seguintes: só será permitido o ingresso na Itália de cidadãos italianos, de países membros da UE ou da Área Schengen, Andorra, Cidade do Vaticano, Principado de Mônaco e San Marino e seus familiares, de titulares de permissão de estadia de longo prazo e seus familiares, pessoas que comprovem uma relação afetiva ou estável com cidadãos italianos ou europeus ou indivíduos que residam legalmente no país, pessoas com filhos menores de idade que morem legalmente na Itália. Também é permitido o ingresso de jornalistas da imprensa internacional, atletas, árbitros, técnicos e juízes de competições esportivas.
O texto especifica que, nos demais casos, o deslocamento é permitido somente em caso de exigências de trabalho, absoluta urgência, saúde, estudo ou para retornar ao próprio domicílio. Além disso, todos deverão preencher um formulário de localização de passageiros (PLF), apresentar certificado negativo de teste molecular ou antígeno para Covid-19 realizado até 72 horas antes do embarque e, chegando na Itália, cumprir quarentena de dez dias. Em seguida, realizar outro teste no fim do período de isolamento. O turismo, por enquanto, não é uma prioridade.
O próprio preâmbulo do documento sublinha o “caráter ainda expansivo da pandemia” e a recomendação europeia de reavaliar, gradualmente, as restrições para viagens não essenciais.
Em vigor até o próximo 15 de dezembro, as novas normas frustraram as expectativas de turistas e foram consideradas por muitos um “balde de água fria” para o setor que representa cerca de 13% do PIB tricolor. As redes sociais funcionaram como megafone de insultos e acusações sobre o suposto caráter político das decisões impostas pelas autoridades italianas.
Pessoalmente, confesso que não apostava em anúncios triunfais, na abertura completa para estrangeiros ou na livre circulação de turistas. Primeiro, porque as vacinas Sputnik e Sinovac ainda aguardam autorização por parte da EMA (European Medicines Agency).
Segundo, porque observando a situação epidemiológica europeia nas últimas semanas, as tensões ligadas à obrigatoriedade do green pass ou passe verde para todos os trabalhadores, inclusive autônomos, a iminente organização do G20 em Roma e possíveis novas controvérsias, nos próximos dias 30 e 31 de outubro, era previsível que a conduta adotada pelo governo fosse aquela da prudência. O edifício conhecido como “la nuvola” ou a nuvem, do arquiteto Massimiliano Fuksas, será palco do encontro entre os líderes dos países do G20 e se temem novos protestos na capital.
Vale lembrar que no último dia 9 de outubro, uma manifestação contra o green pass se tornou alvo de uma minoria de forças extremistas que se infiltraram no evento e, instigando os participantes, invadiram e vandalizaram a sede de um dos principais sindicatos do país.
Em resposta a essa agressão, considerada pela maioria das forças políticas um atentado à democracia e uma regurgitação do fascismo, milhares de pessoas reuniram-se da Piazza San Giovanni em Roma para demonstrar a própria indignação contra a violência e qualquer forma de alusão a regimes totalitários.
A contraposição ideológica entre “no vax” e “si vax” (contrários e a favor da vacina) ainda é presente no país, mas seria míope atribuir essa ruptura inconciliável exclusivamente ao green pass. Até o hospital romano conhecido como Policlinico foi invadido e seus médicos e enfermeiros foram agredidos por manifestantes. O dissenso, que em qualquer nação democrática é legítimo, não se manifesta verbalmente, no debate público, nas sedes institucionais e não, mas se transforma em agressão física. E a resposta, a longo prazo, não pode ser dada impetuosamente, “a caldo”, mas deve ser plural, envolver a política, a cultura, a educação.
Atualmente, 86% da população italiana a partir dos 12 anos completou o ciclo de vacinação, mas de acordo com o boletim do Ministério da Saúde, na última semana, a média móvel de contágios diagnosticados subiu, atingindo 3329 casos, a maior desde 27 de setembro. Em países vizinhos, a tendência também é preocupante. Com a flexibilização das medidas anti-Covid, os casos de coronavírus voltaram a subir no Reino Unido, ameaçando um salto no número de internações hospitalares, embora permaneçam relativamente baixas se comparadas ao auge da pandemia. Em outros países como Romênia e Rússia os números também voltam a gerar preocupações.
O site do Ministério das Relações Exteriores na Itália ainda divulga a mensagem que “quem viaja ao exterior, independentemente da meta e do motivo, deve estar consciente que está sujeito a um risco sanitário”. O turismo ainda está em modalidade stand-by.