Josefov, visitando o bairro e o cemitério judeu de Praga
Viajar serve para romper os nossos esquemas mentais. Para contestar as nossas certezas. Para nos colocar à prova. Confesso que durante a nossa viagem para Praga, a capital da República Tcheca, parei para refletir várias vezes. Sobre a realidade “filtrada” que conhecemos só através dos livros de história. Sobre diferenças culturais e, principalmente, sobre julgamentos gratuitos.
Quantas vezes, depois de uma breve permanência em uma cidade no exterior, saímos esbravejando clichês sobre nacionalidades como “os franceses são mal- educados”, ou “argentinos são arrogantes”, entre outras máximas preconceituosas?
Um dos comentários que mais ouvi sobre os tchecos é que são um povo “frio” e até desconfiado, mas se você parar para pensar nos “duros” episódios da história desse país fica mais fácil entender a personalidade desse povo.
Basta pensar na repressão da cortina de ferro, na primavera de Praga e na revolução de veludo, no suicídio do estudante Jan Palach como forma de protesto político, no clima de total insegurança provocada por delatores presentes até dentro da própria família.
Em pleno século XXI, parece absurdo ainda discutir sobre preconceito, mas na mesma Europa que no dia 27 de janeiro celebra a Giornata della Memoria ou Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, ainda há quem estufe o peito e sublinhe em voz alta a própria suposta superioridade sobre outros grupos étnicos.
Aqui no Post-Italy.com já dediquei vários artigos ao tema da perseguição aos judeus na Itália (você poderá encontrar todos no final desse post), mas dessa vez quero compartilhar com vocês a minha experiência no Bairro Judeu (Josefov) de Praga.
Durante séculos os judeus de Praga foram vítimas de leis discriminatórias e essa perseguição só começou a ser abolida a partir de 1784 graças ao imperador Josef II (daí deriva o nome do bairro).
Em Josefov, além de várias sinagogas, uma das principais atrações é o seu antigo cemitério judeu. O número de horas que você pode dedicar a essa área da cidade depende de seu interesse pela história, mas já antecipo que além da parte mais antiga Josefov reúne também alguns dos edifícios de estilo Art Nouveau mais lindos da cidade. E olha que em matéria de beleza arquitetônica Praga não fica devendo nada para nenhuma outra capital europeia.
Ali nos arredores também está situada a Pařížská, a rua mais elegante da cidade, caracterizada pela presença de lojas de grife, carros de luxo e vitrines de cair o queixo.
Para explorar esse bairro você tem várias opções de bilhetes, mas sublinho aqui que só para a Sinagoga Velha-Nova é possível comprar entrada avulsa.
Fazendo as contas, acabei preferindo comprar o ingresso que por 350 coroas tchecas (aproximadamente 58 reais) garante a entrada nas seguintes monumentos: Maisel Synagogue / Pinkas Synagogue / Old Jewish Cemetery / Klausen Synagogue / Ceremonial Hall / Spanish Synagogue / + Robert Guttmann Gallery.
Guarde o seu bilhete porque ele deverá ser apresentado na entrada de cada atração e é válido por sete dias. Nos ingressos você também terá a miniatura de um mapa indicando exatamente a localização de cada atração turística.
Se você não tiver tempo nem disposição para visitar todos os monumentos do circuito a minha sugestão é que não perca pelo menos o trio Sinagoga Velha-Nova, Sinagoga espanhola, a Sinagoga Pinkas (onde existe uma inteira parede/memorial com os nomes de vítimas do Holocausto) e o velho cemitério judeu.
A Sinagoga Velha-Nova é a mais antiga do velho continente e um dos primeiros edifícios góticos de Praga. A construção sobreviveu a incêndios, a reforma do bairro e aos chamados “pogrom”, atos em massa de violência contra judeus e outras minorias étnicas. Já o estilo atual da Sinagoga espanhola imitam o estilo moresco, com ricos estuques que lembram a Alhambra.
Em Josefov, no entanto, o que mais me emocionou foi o velho cemitério judeu, que por mais de três séculos foi o único espaço reservado para a sepultura de judeus em Praga. Ele foi fundado em 1478 e o último sepultamento realizado ali ocorreu em 1787, data na qual o imperador Joseph II proibiu enterros dentro da cidade.
O que mais impressiona é a grande concentração de túmulos em um espaço relativamente pequeno. As estimas dizem que hoje, ali, existem cerca de 12 mil túmulos, mas que no cemitério foram enterradas mais de 100 mil pessoas, umas sobre as outras. A questão é que o espaço à disposição sempre foi inferior à demanda da comunidade judaica porque o judaísmo não permite a cremação de corpos.
Muitas lápides são colocadas uma sobre as outras e algumas são decoradas com símbolos como a cruz de Davi, cachos de uvas e animais. Desde 1995, o cemitério foi classificado como monumento cultural nacional e a sepultura mais visitada é aquela do rabino Löw,e em sinal de respeito às tradições judaicas os visitantes não colocam flores mas pedrinhas sobre os túmulos.
Para visitar o cemitério judeu de Praga e as sinagogas os homens devem utilizar o kippah, clássico chapéu que cobre a cabeça, fornecido na entrada dos monumentos.
Dicas úteis: Antes de mais nada, lembre-se que por causa do shabbat, o dia de descanso semanal no judaísmo, aos sábados não é possível visitar as atrações de Josefov. Para chegar até lá, use a linha verde do metrô e desça na estação Staroměstská. De novembro até março o cemitério permanece aberto das 9h às 16h30 e de abril a outubro das 9h às 18h.
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