San Gimignano. Atrações imperdíveis na cidade

Não quero ter a presunção de afirmar que a Toscana é mestre e poderia nos transmitir muitos valores para nortear nossas escolhas futuras.

Olhando para o passado e pensando em ações como a instituição do mecenato para apoiar artistas e embelezar as cidades, na inovação do pensamento político do chamado “bom governo”, aquele dos justos, como descrito no afresco de Ambrogio Lorenzetti em Siena, na revolução nas ciências ou na arquitetura não há como não pensar que essa região da Itália abriu os caminhos para os tempos modernos.

Já ouviu falar de San Gimignano, por exemplo? Ao sudoeste de Florença, ela é conhecida como a cidade das torres e imagine que já em 1300 a maior delas, a Torre Grossa, tinha 54 metros de altura. 

Consegue imaginar o impacto visual de um edifício assim tão alto naquela época e como reagiam os peregrinos que chegavam à cidade depois de ter percorrido a Via Francigena?

Ritmo lento e qualidade de vida caracterizam o cotidiano em San Gimignano

Desde que o mundo passou a ser governado por homens, explicitar o poder, autoridade e influência passou a ser uma necessidade para garantir a sobrevivência dos estados.

Piazza della Cisterna em San Gimignano

Arquitetura e urbanística também fazem parte dessa esfera. Verticalizar e ocupar o skyline até onde o nosso olhar consegue captar é uma maneira subliminar de dizer que nem o céu é o limite. Essa não é uma ideia contemporânea, muito pelo contrário.

A Manhattan medieval

Engana-se quem pensa que só edifícios ultramodernos como aqueles de Dubai ou Cingapura são capazes de impressionar. Imagine que já no século XIV em San Gimignano existiam 72 Torres.

Construções erguidas pelas famílias mais potentes da época, não necessariamente pensadas como residência. Hoje, somente 14 Torres ainda sobrevivem no céu de San Gimignano.

Não por acaso, desde 1900, pela sua arquitetura e obras de arte conservadas em seu centro histórico a cidade foi declarada patrimônio da humanidade pela Unesco e informalmente chamada de Manhattan medieval.

Dá para chegar até lá de trem, mas o carro te permite circular com mais facilidade entre as cidades do Vale do Elsa como Volterra e Monteriggioni ou fazer paradas estratégicas.

Degustação de azeites no Frantoio di San Gimignano

A minha sugestão é que poucos quilômetros antes de entrar na cidade você visite o Frantoio San Gimignano para fazer uma degustação de azeites locais. Além do prazer gustativo (eu também provei uma azeitona recoberta de chocolate), graças a um visor em 3D você poderá sobrevoar os campos de oliveiras da Toscana.

Visor em 3D permite imersão na paisagem toscana

Percorrendo de carro a estrada que une o frantoio até o centro de San Gimignano você apreciará a paisagem que caracteriza a cidade, quase inalterada e emoldurada por ciprestes, videiras e oliveiras.

Essa vista emoldurada só é possível graças à visão do arquiteto Piero Bottoni. Credits: visittuscany.com

Isso só é possível graças ao intuito de um visionário arquiteto milanês: Piero Bottoni.  Com um plano urbanístico que não deturpava a natureza, hoje a humanidade inteira pode contemplar o seu skyline.

Para explorar os seus tesouros, em vez de ingressar na cidade da Porta San Giovanni, entre centenas de turistas, opte por um percurso alternativo recém-inaugurado ao público, aquele ao longo dos muros que circundam a cidade (Camminamento delle mura).

O percurso do Camminamento delle Mura

Percorrendo a pé seus 420 metros de extensão você poderá contemplar paisagens como os terrenos com as videiras que dão origem à Vernaccia di San Gimignano, seu vinho icônico e o primeiro italiano a receber a classificação DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita).  

Vista percorrendo o Camminamento delle Mura

O vinho é tão antigo que ele foi citado, inclusive, na Divina Comédia. Em sua obra-prima, Dante Alighieri envia o Papa Martinho IV ao Purgatório para que ele pague seus pecados de gula, especialmente aquele ligado as enguias do Lago di Bolsena afogadas na Vernaccia. Se quiser saber mais, visite reserve uma degustação na Vernaccia di San Gimignano Wine experience La Rocca.

Imersão na arte e na história

Uma viagem a San Gimignano não pode excluir uma visita até a Collegiata di Santa Maria Assunta, igreja românica do século XII que conserva afrescos do Velho Testamento pintados por artistas como Bartolo de Fredi e Taddeo di Bartolo.

Ciclo de afrescos na Collegiata de San Gimignano. Credits: visittuscany.com

Se encontrar o seu pároco, Don Gianni Lanini, ele ficará feliz de contar como a igreja envolve os fiéis através dos cinco sentidos, usando o incenso, o canto gregoriano ou o poder evocativo de imagens sacras.

No interior da Collegiata, não deixe de observar a capela dedicada à Santa Fina, padroeira da cidade, e os afrescos de Domenico Ghirlandaio (1475).

Para quem não sabe, Santa Serafina, também conhecida por Santa Fina, por cinco anos permaneceu pregada ao leito, com o corpo em corrupção, e na mais extrema pobreza.

Ainda no centro histórico, outros edifícios de culto que merecem uma visita são as igrejas de Sant’Agostino e San Lorenzo in Ponte.

Ao lado da Collegiata, o Palazzo Comunale, também conhecido como o Palazzo Nuovo del Podestà, hoje é sede de um museu cívico com importantes obras de arte. Em seu pático ficam brasões de prefeitos e magistrados da cidade. No primeiro andar, não perca a Sala di Dante, onde uma inscrição lembra uma visita feita pelo poeta em 1299.

Nesse edifício, uma curiosidade une San Gimignano à OTAN. Em uma sacada de madeira fica a inscrição adotada como slogan dessa organização internacional: “animus in consulendo liber“. (Uma mente livre para tomar decisões).

De lá, siga para a Torre Grossa e admire a cidade do alto de seus 54 metros. Ela foi construída entre 1300 e 1311 ao lado do novo Palácio do Podestà, no período medieval o cargo político mais importante da cidade e nenhuma outra torre deveria superar a sua altura. 

Alegria de explorar uma das cidades mais fascinantes da Toscana

Por muito tempo, a Torre Grossa era a única que permitia o acesso ao público, mas desde 2016 os turistas também podem visitar outro tesouro de San Gimignano, o Palácio e Torre Campatelli.

Degustação de Vernaccia di San Gimignano na Torre e Casa Campatelli

Sua última moradora, a herdeira da nobre família Campatelli, doou a propriedade ao FAI (Fundo Ambiente Italiano), que após um longo restauro inaugurou o monumento, permitindo ao público a chance de visitar o interior da residência, decorada com móveis refinados e objetos do final do século XIX que pertenceram à família Campatelli do final do século XIX.

O local também pode ser alugado para eventos privados e eu tive a oportunidade de participar de uma degustação de vinhos locais no Palazzo Campatelli.

Para os mais gulosos

No final da tarde, aproveite para passear pelos arredores da Piazza della Cisterna, aquela decorada com um poço e cenário perfeito para lindas fotos.

Piazza della Cisterna

Faça uma pausa para degustar algumas das delícias gastronômicas da cidade. Impossível não notar a fila gigantesca formada diariamente diante da Gelateria Dondoli. Seu proprietário, Sergio Dondoli, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais e seu filho, Stefano, conta que o pai começou a carreira como um desafio. Na década de 80 ele tinha restaurantes na Alemanha.

Ao ver que o cunhado, proprietário de uma sorveteria, fechava a atividade em setembro e só a reabria na Páscoa, podendo assim aproveitar diversos meses de férias, decidiu mudar definitivamente de ramo, para a nossa sorte.

Se ficar indeciso diante de tantos sabores, opte por aqueles mais originais, como a Crema Santa Fina, em homenagem à santa protetora da cidade, preparado com creme ao açafrão e pinoli, Champelmo (grapefruit e espumante de Vernaccia), RosemaryBaby (com framboesas e alecrim) ou Zabaione di Vinsanto, o vinho licoroso típico da Toscana.

Se você é fã de doces, faça uma parada gulosa na doceria Il Criollo para provar o bolo criado para homenagear Santa Fina, a base de açafrão e limão, ou seus cenográficos doces preparados com as melhores variedades de cacau do mundo.

Para levar para casa uma lembrança original, invista no zafferano (açafrão), um dos produtos de excelência desse território. Imaginem que de tão precioso, já no século XIII era usado como “moeda”, para pagar as dívidas da prefeitura depois do assédio de inimigos.

Torta Santa Fina e doces a base de chocolate na doceria Il Criollo

O declínio da cidade começou por volta de 1348, depois da peste e da carestia. Com a grave crise, em 1351 San Gimignano se rendeu à Florença, renunciando a sua autonomia política.

Hospedagem

Pela posição super central e pela possibilidade de dormir em um dos quartos com vista para a Piazza della Cisterna considere a hipótese de hospedar-se no Hotel La Cisterna.

Vista da janela do quarto no Hotel La Cisterna

Frantoio di San Gimignano (Localita’ Casa Alla Terra, 39, 53037 San Gimignano)

Palazzo Comunale e Musei Civici di San Gimignano: (ingressos 9 euros. De novembro a março, aberto das 11h às 17h30 de segunda a sexta e até às 18h aos sábados e domingos. De abril a outubro das 10h às 19h30)

Palazzo e Torre Campatelli: (Via san Giovanni, 15. Ingressos 7 euros. Visita guiada por 12 euros. Também é possível comprar por 10 euros o ingresso que permite a entrada na Casa e Torre Campatelli e no Museo della Vernaccia, com direito a um cálice de vinho. Abre às 10h30. Fecha às 17h30 no inverno e às 19h de abril a outubro).

Gelateria Dondoli: (Piazza della Cisterna, 4)

Doceria Il Criollo: (Via dei Fossi, 3/A)

Vernaccia di San Gimignano Wine Experience (Via della Rocca, 1)