Monticchiello e o luxo de uma vida simples no Val d’Orcia, Toscana
Monticchiello, ao sul de Siena, na região da Val d’Orcia, representa muito bem aquela Toscana fotogênica dos cartões postais.
Casas rústicas mas de fascínio indescritível, flores nas varandas, ritmo de vida lento, uma paisagem de tirar o fôlego e poucos habitantes que dão grande peso à palavra comunidade.
Desde 1967, durante o verão, os moradores da cidade organizam e interpretam personagens em um animado festival de teatro.
Entre os meses de julho e agosto, os espetáculos do chamado teatro povero (teatro pobre, popular) são realizados ao aberto, na principal praça de Monticchiello, e são um sucesso de crítica e de público. Por motivos óbvios, no último biênio a pandemia impediu a realização dos espetáculos.
Como todas as pessoas nascidas na província de Siena, quem vive em Monticchiello tem um grande orgulho de sua própria terra. Em italiano, diríamos che sono campanilisti (bairristas).
Isso fica claro em cada cantinho da cidade. Suas poucas praças, becos e lojas são cuidadosamente decoradas e, por ser um burgo pequeno e unido (pouco mais de 200 habitantes), acho que a sensação de invadir um espaço alheio é quase comum aos turistas de passagem. Não que ali falte hospitalidade. Muito pelo contrário.
Estive em Monticchiello na semana passada e, com o turismo interno ainda em fase de aceleração gradual, quando chegamos lá foi praticamente impossível não ser notada pelos moradores que conversavam e degustavam um café ou uma cerveja na praça principal do vilarejo.
Depois de uma troca de olhares desconfiada, já me perguntam de onde vínhamos e começamos uma conversa sobre os “monticchellesi DOC”, moradores arraigados a sua própria origem.
Os toscanos adoram bater papo e compartilhar as belezas de seus próprio território. Mas é preciso respeitá-las e lembrar-se que a cidade tem origem medieval e ainda hoje mantém intactas as suas riquezas naturais, artísticas e arquitetônicas. Não é por acaso que a Val d’Orcia é considerada patrimônio Unesco. Estive lá várias vezes, mas os melhores encontros geralmente acontecem quando não são planejados.
Nos unimos aos moradores e passamos a tarde lá, curtindo a brisa, a sombra e uma vista incrível das colinas toscanas.
Visitamos a sua igreja medieval (chiesa dei santi Leonardo e Cristoforo), subimos até a parte mais alta do “borgo” e contemplamos uma mostra de arte contemporânea em meio a oliveiras.
Do alto do vilarejo ainda é possível ver as ruínas de uma antiga torre (Torre del Cassero, de 1260 mas ainda não aberta ao público) e os restos dos muros que protegiam a cidade. Outro símbolo de sua origem antiga também é um “lavatoio”, um tanque público onde era possível lavar roupas.
Passemos pelo vilarejo e fiquei hipnotizada diante de uma loja de tecidos e artigos de cama, mesa e banho da histórica marca italiana Busatti.
São oito gerações que a empresa realiza artesanalmente, em Anghiari, peças de lã, algodão, linho e cânhamo. Essa pequena cidade na província de Arezzo foi, inclusive, tema de um afresco realizado por Leonardo da Vinci no Palazzo Vecchio de Florença.
Chamada de A Batalha de Anghiari, a obra retratava uma batalha para garantir a hegemonia toscana contro os milaneses, mas acredita-se que a pintura tenha sido escondida embaixo do mural realizado sucessivamente por Giorgio Vasari.
A principal atração da cidade, no entanto, é a chance de apreciar, mesmo que por poucos instantes, um pouco do cotidiano de uma autêntica vida toscana.
Muita gente já me perguntou se dá para fazer um bate-volta até o Val d’Orcia. Não que isso seja impossível se a sua base for Siena. Partindo de Florença seria ainda mais cansativo. Só que eu não recomendo porque, para mim, fazer uma maratona por lá você perderia a verdadeira essência do lugar, que combina mais com o slow tourism.
Para quem não sabe, o Parco Naturale, Artistico e Culturale del Val d’Orcia foi classificado como patrimônio da humanidade Unesco desde 2004 e eu não perderia chance de admirar com calma as suas colinas e passear tranquilamente entre vilarejos como Montepulciano, Pienza, Montalcino, Sarteano, Bagno Vignoni, só para citar alguns dos meus preferidos.
Optaria por hospedar-me em um agriturismo, visitar uma vinícola, quem sabe fazer um passeio de Vespa pelas colinas e descobrir cantinhos que os turistas mais apressados não terão a chance de ver.
Apesar da aparente breve distância entre eles, considere que o ideal é explorá-los de carro, curtindo as paisagens que encontrará percorrendo curvas sinuosas e aceitando o fato que provavelmente fará muitas pausas para fotos. Pode acreditar!
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