Três murais de street art em Roma que você precisa conhecer
Se para entender a Roma do passado basta passear pela cidade e admirar os seus principais monumentos, o discurso muda quando o assunto é a cidade contemporânea.
Roma se tornou quase uma marca que inclui filmes e séries de TV como A Grande Beleza ou Suburra, mas quanto da verdadeira capital italiana a arte consegue traduzir em palavras, em imagens?
Uma maneira insólita de conhecer o lado mais verossímil da Roma atual e de descobrir algo mais sobre os seus habitantes é “decifar” alguns de seus murais de street art. Nesse post selecionei três deles e explico por que vale a pena incluir essas obras de street art em um itinerário pela cidade.
Na periferia romana, entre a Via Prenestina e a Via di Portonaccio fica a sede desativada da Snia Viscosa, uma ex-fábrica que produzia seda artificial. Durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive, o local serviu de refúgio antiaéreo e atualmente é uma área ocupada por um centro social. Nessa área fica um mural de Blu, personagem que o jornal The Guardian classificou como um dos 10 melhores nomes da street art. Seu rosto é secreto e sua identidade fortemente ligada aos mais fracos. Uma espécie de Robin Hood munido de sprays e de uma ideia na cabeça.
No passado a Itália esbanjava artistas visionários como Caravaggio. Os protagonistas de seus quadros podiam ser uma prostituta ou peregrinos de pés sujos, por exemplo. Personagens de origem humilde, destinados às margens da sociedade.
Blu também é um nome associado às periferias e no mural da Via Prenestina 163 ele retrata uma multidão de oprimidos. De homens esmagados e pisoteados. De engraxates maltratados. De uma população submissa e conformista, até que alguns ousam fugir dessa realidade. Um tema totalmente conectado com uma Europa caracterizada por um mercado de trabalho cada vez mais precário.
Blu, sempre ele. Uma de suas últimas obras na capital está suscitando polêmicas. Entrando no bairro conhecido como Quarticciolo, na periferia, a sensação é aquela de cruzar com um microcosmo de sul da Itália. Ostuni. Molfetta. Trani. Ruas com nomes de cidades da Puglia. Uma homenagem aos italianos que na década de 30 emigraram para a capital na busca de melhores condições de vida.
Um de seus “personagens” mais famosos, Giuseppe Albano, na verdade é conhecido como o Gobbo del Quarticciolo (o Corcunda do Quarticciolo). Um calabrês que durante os nove meses de ocupação nazista na capital liderava um grupo partigiano. Chegou a assassinar três soldados alemães e assassinado, provavelmente com a colaboração de um delator.
Nos varais das casas populares, uniformes de garis ou camisetas com nomes de oficinas mecânicas. Para evitar as escadas, na praça principal do Quarticciolo, meninas pedem que o pai, da janela do prédio, com um balde e uma corda lhes entregue as bonecas que aguardam para brincar. Ao lado da biblioteca do teatro do bairro uma senhora se improvisa camelô para vender cachecóis do time da Roma. Na biblioteca do Quarticciolo, verdadeiro desafio cultural, volumes em várias línguas se mesclam a jornais e revistas de atualidade.
Nesse bairro fica um edifício de seis andares, sede de uma ex-delegacia. Em sua fachada Blu realizou duas figuras gigantescas. Uma representa a Vênus de Milo, a estátua da Grécia antiga que faz parte do acervo do Museu do Louvre, em Paris. No mural, ela carrega uma bolsa de grife, sacolas de compras e está acompanhada por um cão poodle.
A segunda é o David de Michelangelo, em uma versão insólita, visivelmente acima do peso. Relógio de ouro no pulso. Crucifixo no peito. Tênis grifado nos pés. Garrafa na mão e um celular pronto para bater um selfie. Alguma semelhança com a sociedade consumista de hoje?
O terceiro mural que você deve conhecer fica em Ostiense, um bairro já conhecido por várias obras de street art. Na fachada de um prédio de cinco andares na esquina entre a Via del Porto Fluviale e a Via del Gazometro foi inaugurado recentemente o maior mural antipoluição da Europa. A imagem realizada pelo milanês Federico Massa (Iena Cruz) é aquela de uma garça-real caça a sua presa em um mar poluído. A pintura usa a técnica chamada de Airlite ou hunting pollution. Doze metros quadrados são capazes de absorver as substâncias nocivas emitidas no ar por um automóvel no arco de 24 horas. Um tema que nos faz refletir. Inclusive quando, pelas ruas de Roma, cruzamos com animais como gaivotas.
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