O colecionador de mais de 500 presépios na Itália
Para a maioria dos católicos, montar o presépio é um ritual que repete-se uma única vez ao ano. Procurar aquela velha caixa dentro do armário, tirar fora as peças e ordená-las, cada um segundo a própria lógica, nos traz segurança.
Aqui em casa, por exemplo, só acrescentamos as imagens da Virgem Maria e de São José na tarde do dia 24, e, enfim, o Menino Jesus, no dia 25.
É uma tradição. Um costume que, implicitamente, contém um forte valor simbólico. São Francisco de Assis provavelmente havia intuído o potencial da representação da Natividade.
Em 1223, no pequeno vilarejo medieval de Greccio, na província de Rieti, ele inventou o primeiro presépio vivo da história. Os moradores interpretaram o Menino Jesus na manjedoura, Nossa Senhora, São José, os Reis Magos, os pastores e os anjos e os animais da encenação também eram reais.
Com o tempo a iniciativa começou a difundir-se e hoje, de norte a sul da Itália, a tradição dos presépios é onipresente. Vale lembrar que em uma cidade como Nápoles, na famosa Via San Gregorio Armeno, é possível encontrar o ano todo personagens dos presépios realizados pelos melhores artesãos locais.
Já falei mais de uma vez que nossas andanças pela Itália a melhor parte são as pessoas que encontramos. Na Toscana, na cidade de Sarteano, na província de Siena, conhecemos Stefano Rappuoli.
Ele conta que desde criança vivia o momento de montar o presépio como algo mágico. E que, já adulto, durante uma viagem à Terra Santa, comprou o seu primeiro presépio, realizado em madeira.
Desde então, a cada país que visitava procurava uma Natividade que refletisse fielmente a cultura local e o que era um hobby pessoal assumiu o status de museu. Em Sarteano fica Presepi dal Mondo, como é chamado o espaço expositivo.
Stefano possui uma coleção única formada por mais de 500 presépios provenientes do mundo todo. Peças em ferro, madeira, terracota, papel, em vidro da ilha de Murano, em materiais reciclados.
Cada uma delas é única. Grandes ou minúsculas. Minimalistas ou super detalhadas. Tradicionais ou de vanguarda. Em materiais pobres como folhas de banana, casca de coco e velhas ferramentas ou mais que disputados como as peças em terracota da artista siciliana Angela Tripi.
Mesmo quem não é católico não fica indiferente diante da perfeição e da criatividade dos artesãos italianos e estrangeiros que realizaram os presépios. É um prazer observar cada figura e tentar adivinhar a sua proveniência.
A vasta coleção é exibida em parte em Sarteano e Stefano sofre sempre o assédio de diversos museus interessados em expor as peças que ele acumulou no tempo. Periodicamente, ele troca as peças expostas no Presepi dal Mondo para que todas elas tenham a chance de ser admiradas pelo público.
O acesso a Presepi dal Mondo é gratuito e a coleção pode ser visitada o ano inteiro das 10h30 às 12h30 e das 17h às 19h.