Nos bastidores da arte dos mosaicos em Montepulciano
Montepulciano, na Toscana, é um lugar que conheço muito bem. Estive na cidade diversas vezes, visitei suas cantinas históricas e seus principais monumentos, frequento Calici di stelle, o evento que acontece todos os anos na Piazza Grande e o seu famoso mercadinho de Natal, coleciono boas lembranças de alguns de seus restaurantes e comerciantes locais e tenho um afeto especial pelo Tempio di San Biagio.
Quando uma meta de viagem é familiar, é quase natural “dare tutto per scontato”, ou seja, considerar tudo obvio e não se surpreender mais com tudo aquilo já emoldurado pelo nosso olhar.
O desafio é exatamente ceder espaço para um encontro inesperado, para uma nova descoberta, e foi exatamente isso que aconteceu durante minha última ida à Montepulciano.
Passeando pela Via di Cagnano noto a dedicação com a qual um senhor une minúsculas peças de mosaicos multicoloridos. Com paciência e talento, ele compõe rostos e paisagens típicos da região do Val d’Orcia e da Val di Chiana, na Toscana.
Imagens icônicas como a Capelinha da Vitaleta, os ciprestes de San Quirico d’Orcia ou os becos de Montepulciano saem dos cartões postais e ganham nova vida em obras que não são representam o resultado de um gesto repetitivo, mas a profunda e refinada arte dos mosaicos romanos e bizantinos.
Se você aprecia esse tipo de expressão artística, vale a pena saber que a cidade de Ravena, na região da Emilia-Romanha, é o centro dos mosaicos na Itália (do século V e VI d.C).
Ex capital do império romano do ocidente, seu patrimônio é considerado patrimônio da humanidade pela Unesco. Entre basílicas, mausoléus e outros edifícios de culto, são oito os monumentos decorados por mosaicos imperdíveis na cidade.
Curiosa, entro no laboratório e graças a uma agradável conversa descubro que a arte de Albo Mazzetti não é só admirada em território italiano. Hoje ele é aposentado, mas não renuncia ao trabalho que para ele é um verdadeiro prazer.
Em 1966 ele frequenta a Scuola Italiana del Mosaico, em Montepulciano, e junto com outros dois colegas é chamado no mundo todo para decorar monumentos importantes.
Ele trabalhou em lugares de culto como o santuário del Tindari, na Sicília, uma igreja na cidade de Lowell, no Massachusets, ou a Holy Trinity Church, inspirada nos esboços do pintor americano Robert Andrews.
Ele não se subtrai às minhas perguntas e me explica a sua arte com a calma que só um artesão que sabe dar valor ao tempo pode ter. Me conta onde compra as peças coloridas e que método cataloga cada uma delas, como faz para cortá-las, que técnica usa para criar o desenho que dará origem ao quadro, como une e que peso emprega para que os mosaicos se mantenham firmes.
Hoje vivemos na era do imediatismo, do tudo para ontem, mas é interessante saber que os mesmos mosaicos que milênios atrás fascinaram imperadores ainda hoje traduzem o belo.
Se você passar por Montepulciano, não deixe de entrar no laboratório de Albo. Sua cordialidade e a sua arte não te deixarão indiferente.
Laboratorio Mosaici Artistici
Via di Cagnano, 4
Montepulciano
laboratoriomosaici.com