DiárioSexto Sentido

A arte imita a vida. O suposto “mal” nas obras de Picasso e Caravaggio

Estamos preparados para a representação do mal? O tema do conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem ocupado a maior parte dos noticiários italianos e uma das acusações mais frequentes contra a mídia é aquela de promover a “pornografia” de guerra, evidenciando os horrores de corpos sem vida.

Isso me fez pensar na crítica que Pablo Picasso recebeu ao pintar Guernica, a tela que representa as atrocidades da Guerra Civil espanhola durante a ditadura franquista e hoje parte do acervo do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madri. 

No dia 26 de abril de 1937, o pequeno vilarejo de Guernica, foi atacado por toneladas de bombas incendiárias pelas forças nacionalistas que apoiavam o General Francisco Franco. Foi uma verdadeira barbárie e o ataque foi considerado um dos piores da história.

Se narra que, na década de 30, Otto Abetz, um embaixador nazista na França, foi até o apartamento de Picasso em Paris e, ao notar uma foto do quadro Guernica ele tenha perguntado ao pintor: “foi você que realizou esse horror?”. E ele teria respondido imediatamente que não, que aquela era obra sua”.

Isso me fez pensar em muitos quadros da arte italiana criticados porque fugiam dos padrões estéticos aceitos na época, principalmente naqueles de Caravaggio, um dos artistas mais controvertidos de todos os tempos. Selecionei quatro para comentar aqui.

Caravaggio, La Madonna dei Palafrenieri , 1605-1606, Roma, Galleria Borghese

Causou escândalo porque representou a virgem com as feições de uma plebeia e um decote provocante enquanto segura uma criança completamente nua e tenta afastar a serpente do pecado, com a ajuda dos pés do filho.

Caravaggio, La morte della vergine, 1604-1606, Paris, Museu do Louvre

Nessa tela, o corpo da Madonna não tem qualquer conotação mística, com o ventre inchado e o braço caído. Ela foi comparada a uma prostituta encontrada morta no rio Tibre, em Roma.

Caravaggio, Davide con la testa di Golia, 1606, Roma, Galleria Borghese

Provavelmente realizado em Nápoles, para onde o artista fugiu porque foi acusado de homicídio. Representa a vitória do herói de Israel contra o gigante Golias, e a expressão de David é aquela de quem sente compaixão pelo pecador. Se você observar bem, o rosto de Golias tem as feições do próprio Caravaggio, com o drama humano que enfrentava durante o exilio.

Caravaggio, San Matteo e l’angelo, 1602, Roma, igreja de san Luigi dei Francesi

A primeira versão dessa tela foi recusada porque parecia que o santo fosse um analfabeto e que o anjo fosse responsável por ditar a ele as palavras a serem escritas.

Para saber mais sobre Caravaggio leia os posts:

Caravaggio: admirar, de graça, as obras de um maestro

Caravaggio e a trilogia de são Mateus em San Luigi dei Francesi

Precisando de acompanhante em lingua portuguesa para seus passeios em Roma, fale comigo enviando e-mail para post-italyblog@gmail.com 

This article has 2 comments

  1. valquiria

    ola Analise . li seu artigo memórias de um pracinha, voce entrevistou o seu Miguel? voce entrevistou outros pracinhas ou pessoas italianas que viveram a segunda guerra? poderia me contatar? agradeço.
    Valquiria Imperiano
    apresentadora do programa a cobra fumou – canal cultive

  2. anelise sanchez

    Ola Valquiria! Bom dia! sim, entrevistei o sr Miguel e foi uma experiencia enriquecedora. Meu sogro, que é italiano e hj tem 89 anos, foi profugo na África durante a campanha imperialista de Mussolini.
    Anote meu emai se precisar de mais informações: postitalyblog@gmail.com

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *