Passeio diferente em Roma. Revolucionárias na street art do Trullo  

Quem viaja para Roma pela primeira vez quer ver o Coliseu, a Fontana di Trevi, a Praça Navona. Certíssimo. São paradas obrigatórias para quem sonha em conhecer a cidade eterna. Só que aqui no blog eu também gosto de contar sobre lugares que representam o lado menos óbvio da capital.

Morando aqui há quase 20 anos, não teria como ser diferente. Eu sinto a necessidade de compartilhar mais do que aquelas informações que você encontraria em qualquer guia turístico.

Roma, como qualquer outra metrópole, não é só o seu centro histórico. A vida por aqui também pulsa nos bairros não edulcorados, aqueles para “estrangeiro ver”.

Quando o assunto é periferia é fácil cair na retórica da emergência, do revanchismo, em uma narração desleixada e aproximada da realidade. O protagonista do post de hoje é o Trullo, bairro entre a Via Portuense e Via Magliana, na periferia sudoeste de Roma e uma história que começa durante o regime fascista.

Para construir a famosa Via dei Fori Imperiali, na década de 30 Mussolini ordenou a demolição das casas dos arredores. Assim, muitos moradores foram transferidos para casas populares da periferia romana, incluindo aquela área que hoje é conhecida como Trullo.

Trullo, para quem não sabe, é aquela construção circular e com teto cônico típica da cidade de Alberobello, na região da Puglia. O bairro romano foi chamado assim porque ali foi encontrado um sepulcro romano cuja forma lembrava um trullo pugliese.

O Trullo não é o único bairro popular erguido para receber famílias desalojadas, operárias ou migrantes do sul do país. A Garbatella, Tor Marancia e o Quarticciolo são outros exemplos.

O bairro foi projetado principalmente por dois arquitetos fundamentais durante o regime fascista: Roberto Nicolini e Giuseppe Nicolosi e, depois das construções iniciais, o Trullo foi amplificado para receber as pessoas que por anos transformaram os arcos de um aqueduto da Via del Mandrione em casas improvisadas. Parece inacreditável, mas essa também é Roma.

Ultimamente, o Trullo conquistou os instagrammers italianos graças a presença de várias obras de street art que decoram os edifícios do bairro.

Antes que os estúdios de Hollywood pensassem no roteiro do filme “Cloudy with a chance with meatballs “(Chovem Almôndegas), já na década de 60, o escritor de fábulas infantis, Gianni Rodari, inventou junto com as crianças do bairro a história Torta in Cielo (Bolo no céu). O protagonista de um objeto não identificado que, em uma manhã de abril, cai no centro do bairro e essa história é representada em um mural no Trullo. Na verdade, uma maneira de exorcizar o medo da Guerra Fria.

A rua principal do bairro é decorada com tons pastéis e desenhos de flores que embelezam as persianas.

Graças a um grupo de jovens pintores anônimos e a um festival de poesia de rua, versos e imagens simbólicas transformam os edifícios do bairro em “páginas” coloridas que narram histórias.

A minha parte preferida é a Via Ventimiglia e os murais dedicados a personagens femininas que ousaram e demonstraram todo o potencial das mulheres.

Ali vocês encontrarão retratos da pintora mexicana Frida Khalo, da cantora italiana Gabriella Ferri, da ativista sueca Greta Thunberg, da Marina Abramovic e da astronauta Samantha Cristoforetti, a primeira italiana a participar de uma missão com a Agência Espacial Europeia.

Passeando entre os rostos dessas mulheres que não aceitaram a imposição de um papel residual na sociedade, a gente acredita que nenhum destino é inflexível para sempre. E que periferia pode ser sim sinônimo de arte e cultura.

Ficou curioso? A melhor maneira de chegar lá, saindo do centro histórico, é pegar a linha de ônibus 775 que passa na frente da parada Piazzale Ostiense, próximo da linha B do metrô, e descer na parada Trullo/Brugnato. O custo da passagem de ônibus é de 1,50 euros e o bilhete dura 100 minutos a partir do momento em que é validado.

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