Puglia. Em Corato, entre a pisa da uva, azeitonas e forte pertencimento a uma comunidade

Mãos que plantam e colhem azeitonas. Pés que esmagam as uvas. Bocas que antes do café matutino pronunciam um “buongiorno” cordial mesmo a estranhos.

Olhos que não se cansam de apreciar a arquitetura mista de seu centro histórico, dividida por exemplo entre uma igreja com teto na forma de “trullo” cuja construção é atribuída aos cavaleiros templários (Chiesa di San Vito) e edifícios surpreendentes como o Palazzo de Mattis, recoberto com saliências avermelhadas de forma piramidal.

Bem-vindos a Corato, também conhecida como Quaràte, no dialeto local. Essa cidade de quase 50 mil habitantes fica a cerca de 40 quilômetros de Bari e a menos de 20 de Castel del Monte, patrimônio Unesco desde 1996 e um dos arcanos mais estudados da história.

Antigo e novo. Esse cenário híbrido não é casual.

Se trata do resultado de uma evolução arquitetônica que tentou resgatar as casas e monumentos que não foram atingidas por um desastre urbanístico que aconteceu em 1922.

No dia 1° de maio daquele ano, Corato foi atingida por um desequilíbrio hidrogeológico que “engoliu” parte da cidade.

Se em outras cidades da Puglia como Lecce, triunfa o estilo barroco é porque a chamada “Pietra leccese”, mais maleável, facilitou a decoração opulenta de igrejas e palácios.

Em outras áreas da Puglia, como Corato, se usa a “Pietra di Trani”, mais dura e calcária, e pedras brancas do vale da Murgia, onde 80 milhões de anos atras existiam dinossauros. São essas pedras que recobrem a igreja de Maria SS. Incoronata.

Corato faz parte do itinerário que proponho pelas Terre di Bari, emblema de uma Puglia menos conhecida e que pode ser explorada, inclusive, durante o ano todo e não só no período do verão europeu.

A cidade é aquela que deu o nome à Coratina, um dos principais tipos de azeitonas da Puglia.

O azeite produzido com a Coratina é frutado, picante e rico em polifenóis, características que traduzem a sua excelente qualidade, reconhecida mundialmente.

Não por acaso, essa região da Itália é uma daquelas com a maior vocação para o “olio turismo”, iniciativa que aposta em experiências diretas como a colheita, passeio entre as oliveiras e degustação de azeites.

Assim como outras cidades da província de Bari, Corato mantém uma forte ligação com a agricultura.

Estive lá no mês de outubro, quando na cidade acontece um desfile de carroças antigas, guiadas orgulhosamente por famílias que conhecem perfeitamente o valor da terra.

Desde 1975 em Corato fica a sede da Cantina Sociale Terra Maiorium, incialmente opifício e hoje cooperativa que reúne mais de 600 sócios, entre produtores sobretudo de azeite e vinhos como o Castel del Monte DOC, Nero di Troia, Bombino Nero e excelentes rosados.

Durante o período da vindima, os agricultores se reúnem com suas famílias na Cantina Sociale para festejar a colheita com a pisa simbólica das uvas. É um importante momento de encontro que estreita ainda mais os laços de uma comunidade muito unida.

O aspecto folclorista é marcante na cultura pugliese e em Corato não poderia ser diferente.

Geralmente, a partir do terceiro domingo de agosto a cidade festeja São Cataldo, o seu padroeiro.

Uma relíquia com um busto de prata do santo é exibida durante uma procissão que reúne milhares de fiéis. É em ocasiões como essa que turistas notam a forte coesão de uma comunidade do sul da Itália.

Sacro e profano se mesclam pelas ruas de Corato. Em sua principal igreja, chamada de Chiesa Madre di Santa Maria Maggiore, a principal atração é um afresco de 1559 que representa a Virgem de Constantinopla, escondido por anos.

Corato também é meta de turismo religioso e de fiéis de Luisa Piccarreta, que permaneceu enferma, na cama, por mais de seis décadas.

Em uma de suas praças mais frequentadas, aquela conhecida como “la piazza del pesce” fica um grande mural de street art de Luis Gomez dedicado a Giuseppe di Vagno, defensor dos direitos dos camponeses assassinado por fascistas.

Outros edifícios importantes de Corato são o Palazzo Gioia, que segundo uma lenda teria sido construído no local onde no passado ficava um castelo normando, o Palazzo di Città, sede atual da prefeitura no Corso Cavour, e o seu Teatro Comunale, erguido em 1874 e considerado, do ponto de vista estilístico e acústico, um dos mais interessantes da Puglia.

Dedique pelo menos um dia a essa cidade e para provar a culinária local curtindo a vista de castel del Monte, prove o agriturismo Ai Pilieri di Bagnoli (SP 234 Corato/castel del Monte km 15), circundado por parreiras e oliveiras.