Roma subterrânea: a cidade da água que abastece a Fontana di Trevi
Em Roma nem tudo é o que parece. Basta munir-se de uma dose de curiosidade, aguçar a vista, vasculhar as esquinas escondidas ou fugir das multidões para descobrir algo inesperado. Todos os dias o roteiro se repete na cidade eterna. Centenas de turistas que esbarram uns nos outros para não perder de vista aquele guarda-chuva colorido que um guia levanta na esperança de distinguir-se no meio da aglomeração.
Pessoas empurram um “vizinho” de selfie para conquistar o melhor ângulo para uma foto recordação diante da Fontana di Trevi. Enquanto ajeitamos o cabelo ou retocamos o batom antes da pose, o risco é aquele de perder os detalhes.
Você já reparou, por exemplo, que aquele que parece um único monumento na verdade foi construído apoiando-se na fachada de um edifício preexistente? A Fontana di Trevi uniu-se perfeitamente à fachada do Palazzo Poli, até 1678 chamado de Palazzo Ceri, enganando o olho de quem a observa rapidamente.
A poucos metros do grande público e da fonte mais famosa da capital existe outro lugar que também não é o que aparenta. No Vicolo del Puttarello ficava o pequeno Cinema Trevi, uma sala onde era possível assistir filmes da Cineteca Nazionale.
É preciso entrar em silêncio para descobrir, nos subterrâneos da antiga sala de cinema, os vestígios do “Vicus Caprarius” ou “Città dell’Acqua” (cidade da água), um complexo de época imperial. Para que ninguém volte desse passeio decepcionado, adianto que o espaço não é muito amplo e que além de uma boa dose de imaginação, o ideal é visitar o complexo acompanhado por um arqueólogo. Essa é a melhor maneira de assimilar tantas informações que você dificilmente encontraria em um guia turístico e de entender melhor a história de Roma.
Parece incrível, mas você descerá a sete metros de profundidade para descobrir restos do aqueduto virgem, uma das maiores obras de engenharia romana, e vestígios de um verdadeiro bairro como uma “insula” – uma espécie de condomínio popular – circundado por “tabernae” (lojas), um edifício público e uma cisterna. A área foi descoberta entre 1999 e 2001, durante a reforma do cinema, e se trata de um exemplo perfeito de como os romanos não destruíam edifícios mais antigos, mas utilizavam as suas estruturas como base para novas construções.
Com uma extensão que provavelmente atingia os 2 mil m², a parte mais antiga do “Vicus Caprarius” foi realizada durante o império de Nero (55-68 d.C). A “insula” era um edifício popular, geralmente com um pátio interno. Em sua parte mais baixa ficavam lojas e laboratórios de artesãos, enquanto os apartamentos no alto, de menor prestígio, eram de uso residencial. O complexo não possuia banheiros e para a higiene os seus moradores utilizavam as termas ou os banheiros públicos.
Por volta do IV século essa construção foi transformada em uma luxuosa “domus” , residência de uma família rica decorada com mármores de várias cores. A outra construção presente no do “Vicus Caprarius” provavelmente possuía dois andares, onze metros de altura e servia como base para um edifício público. Durante o império de Adriano (117-138 d.C), aproveitando a proximidade do Aqueduto Virgem, o complexo foi completamente transformado e os seus vãos serviram para uma cisterna hídrica ou tanque com capacidade de 150 mil litros.
O aqueduto abastecia principalmente as termas de Marco Agrippa, inauguradas na área do Campo Marzio em 12. a.C. Na época, os romanos já mostravam a própria genialidade inventando até um sistema de impermeabilização. Ainda hoje o aqueduto alimenta as principais fontes do centro histórico, incluindo a Fontana di Trevi e no “Vicus Caprarius” você verá a água que escorre no subsolo de Roma. Os vestígios arqueológicos podem ser percorridos e admirados graças a passarelas transparentes que dividem a parte mais baixa do complexo daquela superior, onde em época medieval também existiam residências particulares. No local também são exibidos objetos de uso cotidiano como ânforas e moedas romanas.
Visitar a área do “Vicus Caprarius” é realizar uma viagem no tempo. “ – Que maravilha! “, sussura uma visitante ao meu lado, quase temendo que o passeio tenha chegado ao fim. Como um mergulhador, voltamos à superfície com passos lentos e recuperando o fôlego. Lá fora a multidão. Nós, quase orgulhosos por folhear em poucos uma página da história romana.
Oi Anelisa, que post espetacular, meus parabéns!!!
Abs de Firenze.
D
Obrigada querida! Fico feliz com o elogio! 🙂
Sensacional. Um achado arqueológico.
Parabéns Anelise.
Grazie mille, Leandro!
Parabéns pelo post. Amo essas programações arqueólogicas em Roma. Continue compartilhando sempre!
Obrigada Luísa! Fico muito feliz com o elogio! Buona giornata! 🙂