Divino Amore: a tradição da romaria entre sacro e profano
Em Roma os símbolos de religiosidade estão por todos os lados. Nas basílicas papais, nas paróquias de bairro, nas inúmeras edicole sacre (altares ou nichos com imagens sacras) presentes em várias cidades ou nas paredes recobertas de dedicatórias conhecidas como per grazia ricevuta.
Outros lugares que exprimem forte sinais de fé coletiva e individual são os santuários. Meta de peregrinações, eles são frequentados por italianos e estrangeiros que desejam agradecer pela própria sorte ou fazer um pedido específico.
Para muitos romanos, o Santuario della Madonna del Divino Amore possui um significado especial. O local é situado na Via Ardeatina, a menos de 15 km do centro da capital, mas ao visitá-lo a sensação é aquela de afastar-se milhas e milhas de Roma, em terras remotas.
Segunda uma lenda, em 1740 um peregrino que se deslocava até a Basílica de São Pedro se perdeu em meio aos terrenos da zona chamada Castel di Leva. Vendo um castelo sobre uma colina, pensou em pedir informações sobre como chegar até Roma, mas foi atacado por um uma matilha de cães. Observando a imagem que representa a Virgem com o menino Jesus sobre a torre de um castelo da zona, invocou o seu auxílio para fugir do perigo. Os cães afastam-se. O homem sobreviveu e o lugar tornou-se uma meta de peregrinação.
Atualmente, o Santuario della Madonna del Divino Amore é composto por duas igrejas: uma antiga (de 1745) e outra uma erguida recentemente, em 1999.
Principalmente durante o período de Páscoa ou nos sábados de verão, muitos peregrinos deslocam-se a pé do Coliseu até o santuário. Os grupos geralmente são escoltados pela polícia municipal e levam tochas nas mãos. No dia 7 de dezembro, um dia antes do feriado da Immacolata Concezione, também acontece uma romaria noturna que percorrer ruas históricas como a Via Appia Antica, passa pelas catacumbas de S. Calisto e à frente do Mausoléu das Forças Ardeatinas até chegarem ao santuário.
Em qualquer época do ano, o local é meta de uma clássica “gita fuori porta”, um passeio pelos arredores da cidade que mescla o sacro e o profano. Há quem una a visita ao santuário com um almoço no restaurante ou outros tipos de programa não necessariamente de cunho religioso.
Além da igreja, muitos peregrinos dirigem-se às salas com agradecimentos à Madonna del Divino Amore. Paredes inteiras são recobertas por dedicatórias, fotografias de pessoas de todas as idades, objetos que lembram a salvação de um perigo ou bençãos como um nascimento tão esperado. Fragmentos de batalhas pessoais que podemos conhecer ou imaginar só em parte.
Um dos objetos mais curiosos é o fone do telegrafista que, graças à Virgem, teria salvado os náufragos que caíram sobre as geleiras do Pólo Norte durante a chamada “Expedição Nobile”. Durante a aventura a bordo de um dirigível, a expedição liderada pelo engenheiro italiano Umberto Nobile provocou a morte de dezessete pessoas.
As dedicatórias do telegrafista é só uma das centenas de mensagens presentes no santuário. Juntas, elas representam uma espécie de biblioteca da humanidade. Histórias alegres ou sofridas assim como é a vida.