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Teresa Cristina di Borbone, a imperatriz de origem napolitana que amou o Brasil

Conhecer a história que se insinua nas dobras do passado, aceitar o desafio desconfortável de pesar os seus erros e acertos para não sentir-se órfão culturalmente e projetar um futuro melhor.

Hoje, 15 de março, a Embaixada do Brasil em Roma inaugura a mostra intitulada “Da Napoli a Rio de Janeiro. L’imperatrice Teresa Cristina di Borbone delle due Sicilie e la fotografia. O evento é dedicado a uma personalidade feminina central na história brasileira, mas quantos realmente conhecem a influência que ela exerceu na nossa cultura?

Teresa Cristina di Bourbon

No último dia 5 de março a Itália relembrou a data que representaria o centenário de Pier Paolo Pasolini, intelectual que sempre sublinhou a importância de conservar a memória histórica e o perigo que uma nação enfrenta ao remover, mesmo que involuntariamente, o próprio passado, a chance de repetir “vícios cíclicos encarnados por homens diferentes, mas com o mesmo cinismo”. O atual conflito bélico entre a Rússia e a Ucrânia demonstra que ele tinha razão.

Em 2022, ano no qual o Brasil celebrará o bicentenário de sua independência e Teresa Cristina de Bourbon teria completado 200 anos, a Embaixada do Brasil em Roma dedica a ela uma “viagem fotográfica” que repercorre os principais momentos de sua vida de embaixatriz, restituindo a ela o protagonismo que lhe foi cancelado ao lado da figura de Pedro II.

Teresa Cristina di Bourbon

Nem todos sabem que ela nasceu em Nápoles, como princesa do Reino das Duas Sicílias. Pedro II procurava uma esposa em todas as cortes da Europa e, em 1843, casou-se com Tereza Cristina por procuração. Naquela ocasião, quem a acompanhou foi seu irmão, o conde de Siracusa.

Antes do casamento, ela teria enviado um retrato ao futuro marido. Como a história é cíclica e insiste em associar a figuras femininas os seus atributos físicos em vez de exaltar suas qualidades intelectuais, é comum lermos a narrativa que Pedro II, em um primeiro momento, teria se decepcionado com a aparência real de Teresa Cristina.

Teresa Cristina di Bourbon

Muito espaço é dado a sua suposta passividade, enquanto o seu papel como promotora de cultura e da imigração italiana no Brasil ainda é residual nas páginas dos livros de história.

Se o Brasil chegou a ser considerado o país da América Latina com a maior coleção de arqueologia clássica isso foi mérito de Teresa Cristina. Ela financiou estudos arqueológicos e colaborou para a criação do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, vítima de incêndio, e do Museu Imperial de Petrópolis.

Fo considerada a “mãe dos brasileiros” e, em 1855, período no qual acontecia uma epidemia de cólera no Rio de Janeiro, ela não abandonou a cidade. Em vez de fugir para Petrópolis, prestou assistência aos cidadãos, visitando hospitais, fornecendo a eles medicamentos e vestuário. Adaptou-se perfeitamente a vida no Rio de Janeiro, cidade que de uma certa maneira possui inúmeras analogias com a cidade natal de Teresa Cristina, Nápoles.

A mostra exposta na Galleria Candido Portinari da Embaixada Brasileira em Roma é uma ponte com o nosso passado. Impossível contemplar as fotografias expostas e não imaginar os bastidores da vida imperial e até o lado mais corriqueiro da vida da família.

Teresa Cristina di Bourbon

O embaixador brasileiro em Roma, Hélio Ramos, lembra, por exemplo, um episódio ligado à cultura gastronômica brasileira também citado pelo professor Rogério da Silva Tjäder, no livro, “Sua Majestade Imperial D. Thereza Christina Maria de Bourbon e Bragança, a Mãe dos Brasileiros”.

Parra resolver um impasse, o fato que seus netos gostassem de comer apenas as coxas dos frangos assados, mas as coxas eram apenas duas, Teresa Cristina teria ido até a cozinha do Palácio de São Cristóvão, desfiado o frango, unindo o ingrediente a uma massa. Em seguida, teria fritado a invenção, colocando nela um ossinho de galinha, e entregado essa delícia a um dos netos, que exclamou para os irmãos: “A coxa que a vovó fez para mim é bem melhor do que a de vocês!” Nascia assim a coxinha brasileira, o icônico petisco brasileiro.

Tereza Cristina de Bourbon também foi a mãe da princesa Isabel e foi exiliada em Portugal.

A mostra fotográfica na Embaixada do Brasil em Roma é aberta ao público diariamente, de segunda a sexta, das 10h às 17h, até 22 de abril. Ingresso gratuito.

 

 

 

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