Sexto Sentido

A Nápoles de Elena Ferrante em “A amiga genial”

Quem acompanha o Post-Italy.com sabe que, recentemente, estou tentando trazer até os leitores algumas sugestões de escritores italianos. A ideia é indicar alguns nomes cujas obras estão indissoluvelmente ligadas a um território, aos seus costumes, tradições. Sabe quando através das páginas de um livro você é transportado para um universo, não só físico, mas íntimo, e até então desconhecido? Quando as feições de nosso rosto mudam, involuntariamente, ao captar uma emoção em uma linha escrita?

Depois de comentar nos Stories do Instagram @post_italy algumas das obras de Michela Murgia, nascida na ilha da Sardenha e autora do romance Accabadora, vencedor de um dos prêmios literários italianos de maior prestígio (Campiello), dessa vez a protagonista desse post é Elena Ferrante a a sua Nápoles.

A Amiga Genial

É difícil acrescentar alho novo sobre uma escritora que vendeu milhões de cópias, foi traduzida em mais de 50 países, cujos livros se tornaram um seriado de TV dirigido, aqui na Itália, por Saverio Costanzo, e que indiretamente também de tornou uma fomentadora do turismo literário em Nápoles.

Você já deve ter ouvido algo a respeito de todo o mistério envolvendo a sua identidade. Elena Ferrante nunca foi fotografada, só concede entrevistas por e-mail e sua biografia limita-se a poucas palavras como “nascida em Nápoles”.

A imprensa italiana chegou a cogitar a hipótese que o seu fosse um pseudônimo e que o verdadeiro autor das obras que levam o seu nome fosse Domenico Starnone, em parceria com sua esposa, a tradutora Anita Raja. Ele também nasceu na mesma cidade do sul da Itália e há quem sustente que há muito de seu estilo literário nas obras de Ferrante e vice-versa. Por um desses casos da vida, uma vez o encontramos na escola de minha filha e ele descartou abertamente essa possibilidade.

A Amiga Genial

Para apaixonar-se por essa autora, eu sugiro que você conheça a tetralogia que começa com A amiga genial(L’amica geniale) e continua com “História do Novo Sobrenome” (Storia del nuovo Cognome), “História de quem foge e de quem fica” (Storia di chi fugge e di chi resta) e “História da Menina Perdida” (Storia della Bambina perduta).

A primeira obra é ambientada nos anos 50, em um “rione” (bairro) periférico e popular de Nápoles. Começa narrando a história de duas meninas, vizinhas de casa, que se tornam amigas desde pequenas.

Assim como a própria cidade de Nápoles, compostas por elementos contrastantes, Elena (Lenú) e Raffaella (Lila) são dois mundos interiores aparentemente distantes e, ao mesmo tempo, tão próximos e complementares.

Lenù é introvertida, obediente e esforçada. Lila é idealista, independente e rebelde. Para uma revanche social, cada uma adota uma trajetória de vida diferente, mas ambas lutam pela própria emancipação e compartilham as dores de uma vida achatada por uma sociedade fortemente machista.

As meninas crescem e a autora trata com delicadeza sentimentos contraditórios como admiração e rivalidade, empatia e violência, falhas e sucessos, autoestima e automutilação da alma, proximidade e separação. Acredito que cada um de nós perdeu e ganhou novamente um amigo, não?

Sugiro a leitura de A amiga genial porque através de suas páginas você também respira a atmosfera de Nápoles, uma cidade ambivalente que assim como as suas protagonistas, mescla elegância e decadência, cultura e pobreza, amor e ódio, obediência e insubordinação. Nenhuma outra metrópole italiana é tão teatral quanto Nápoles.

A Amiga Genial

O universo descritivo e íntimo criado por Elena Ferrante é tão fascinante que, todos os anos, centenas de pessoas visitam Nápoles a procura do Rione Luzzatti, onde vivem cerca de 6 mil pessoas, (ali foi construído o primeiro estádio de futebol do Nápoles), da escola frequentada pelas meninas, a biblioteca Agostino Collina ou da Piazza dei Martiri, a onde Lila inaugura a sua loja e sapatos.

Para saber mais sobre ela, não deixe de acompanhar meu perfil no Instagram @post_italy

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This article has 2 comments

  1. Nivaldo Lima

    Oi Anelise. Não li os livros, mas vi as temporadas já disponíveis da série e gostei muito. Pena que visitei Nápoles antes, senão teria buscado conhecer mais lugares por onde elas passaram. Fiquei com vontade por exemplo de ir em Ischia. Já esteve lá? Queria saber se é muito diferente do estilo de Capri, se é um lugar menos ostentação, talvez mais tradicional.

  2. anelise sanchez

    Olá Nivaldo, tudo bem? Então, Ischia não tem a fama mundana de Capri, mas no verão e muito procurada por turistas, inclusive estrangeiros, que amam termas. Ângela Merkel, por exemplo, passa férias todo ano lá. Os preços são mais acessíveis que Capri e acho que vale a pena conhecer sim.
    Abs e grazie por me seguir aqui

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