Onde comer em Nápoles. O street food che fa bene ao paladar e ao bolso

Não há como “mergulhar” na cultura napolitana sem provar a sua rica variedade gastronômica. Se os prazeres da culinária deveriam ser sinônimo de socialização e de democraticidade, acho em nenhuma outra cidade da Itália existem tantas opções de delícias a preços abordáveis. Isso porque em terra partenopea, a cultura também passa através da mesa, do street food ou da perfeita combinação entre arte e comida.

Os céticos diriam que cultura não enche barriga ou que a arte é um privilégio de poucos eleitos. Por sorte nem todo mundo pensa assim. Há algum tempo atrás o “estrelado” chef italiano Massimo Bottura uniu a gastronomia à solidariedade, mas não com uma fórmula qualquer.

Para evitar o desperdício de alimentos e a marginalização social e, ao mesmo tempo e valorizar a periferia urbana, Bottura lançou o projeto chamado Made in Cloister. O belíssimo claustro de Santa Caterina al Formiello, nos arredores de Porta Capuana, foi recuperado e transformado em espaço para social tables: grandes mesas desenhadas por Mimmo Paladino que oferecem diariamente um jantar a cerca de 40 moradores de rua. Ética e estética que caminham lado a lado. Nápoles “anema e core” (alma e coração).

Influenciados pelos estereótipos, muitos turistas não incluem a cidade em um roteiro de viagem pela Itália perdendo a chance de conhecer as suas mille culure (mil cores), como cantava Pino Daniele.

Nápoles é sim beleza e degrado. É um misto de espontaneidade e um jeito de ser que beira o teatral. É uma Itália a parte. Mas uma Itália que abre suas portas para quem souber enxergar além dos clichês. Conselho. Quando visitar Nápoles, deixe a racionalidade e a conta de calorias em casa e permita que a emoção, inclusive aquela gustativa, fale mais alto.

Nesse artigo pensei em elencar alguns endereços imperdíveis para quem quiser provar a emoção de premiar o próprio paladar com sabores tipicamente napolitanos. Para quem não sabe, o centro histórico de Nápoles é considerado patrimônio mundial da humanidade pela Unesco e essa área da cidade é repleta de tentações gastronômicas.

Na zona do Decumano Maggiore, no centro do centro histórico, comece explorando a Via dei Tribunale. Nessa rua você não pode deixar de provar a piazza de Gino Sorbillo (na altura do número 32), mas prepare-se para enfrentar longas filas. O estabelecimento é famosissimo (com sedes também em Milão, New York e Roma) e depois que em janeiro de 2019 foi vítima de uma bomba caseira a pizzaria conquistou ainda mais a simpatia da clientela local e internacional.

Ainda na Via dei Tribunale, no número 94 você encontra a Pizzeria di Matteo, famosa pela sua frittatina di pasta, um tipo de omelete com macarrão, puro triundo dos carboidratos. Já no número 325 da mesma rua fica a doceria e cafeteria Salvatore Capparelli, conhecida por realizar um dos melhores “babá” da cidade.

De lá você pode aproveitar para explorar Via San Gregorio Armeno, a famosa rua dos presépios em Nápoles, aberta o ano inteiro, e o famoso Cristo Velato do Museo e Cappella Sansevero.

Em seguida, que você caminhe na direção da Piazza San Gaetano ou, no sentido oposto, naquele da Piazza Dante, atravessando a Port’Alba, você encontrará diversas pizzarias que preparam outra delícia napolitana, a pizza a portafoglio, uma pizza dobrada e take away para ser devorada enquanto passeia pela cidade.

Não distante da Piazza San Gaetano, fica um endereço que deve anotar se, como eu, você ama o clássico ragú napoletano. Na Via Mezzocanone 75  você encontra o Tandem, local onde a especialidade é o sanduíche com polpette e ragù, aquele cozido por horas no fogo lento.

Caminhando por cerca de 500 metros você chega até a Via San Biagio dei Librai  e à Taralleria Napoletana (na altura do número 3). O tarallo è um biscoito salgado e crocante também típico da região da Puglia. Em Nápoles, o tipo mais comum de tarallo leva na receita amêndoas e lardo, a camada de gordura do porco. No local você pode acompanhar essa especialidade com cervejas artesanais e frios.

Na mesma rua (via San Biagio dei Librai, 23), no Il Cuopo, você pode provar o cuopo, cone de papel repleto de frituras. Para não transformar a sua permanência em Nápoles em uma maratona gastronômica, se a sua intenção for provar todas as delícias da cidade reserve pelo menos dois dias por lá.

Come o seu dia com dois clássicos napolitanos: caffè nocciolato e sfogliatella. O café com creme de avelãs é somente uma das inúmeras variações ofertas na cidade. Até mesmo entre os italianos é unânime a afirmação que o melhor café do país é aquele que se bebe en Nápoles e o segredo, provavelmente, é a água. Uma das cafeterias mais renomadas da cidade é o Gambrinus (Via Chiaia, 1), mas o caffè nocciolato mais apreciado pelos locais é aquele do Il Vero Bar del Professore (Via Trieste e Trento, 46).

Para provar a sfogliatella recheada de ricota na versão liscia o riccia (lisa ou crespa) vá até o Antico Forno delle Sfogliatelle Attanasio (Vico Ferrovia 1-2-3-4), Scaturchio (Piazza San Domenico Maggiore, 19), à Sfogliatella Mary, dentro da elegante Galleria Umberto I, ou  à Piantauro, na Via Toledo 275.

Nessa última rua,  há um grande movimento e você pode aproveitar para  degustar o gelato (sorvete) da Menella e o clássico café preparado com a caffetiera napoletana. Dica: passeando pela Via Toledo não deixe de dar uma espiada na estação de metrô homônima, uma das mais lindas da Europa.

Para os estômagos mais fortes e não avessos a “pratos pobres”, outra especialidade local é o chamado “o per´e o muss” (pé de porco e focinho de vitela). Depois de fervidos e frios, os ingredientes são cortados em pedacinhos e temperados com sal e suco de limão. O endereço para provar esse clássico é a Antica Tripperia ´O Russ (Via Pier delle Vigne, 24).

Se essa parece uma experiência excêntrica demais, desvie até o Rione Sanità, um dos bairros mais antigos de Nápoles, para provar a pizza fritta de Ciro Oliva -Concettina ai Tre Santi (Via Arena della Sanità, 7 Bis) o una de Isabella de Cham Pizza Fritta (Via Arena della Sanità, 27). E se essa especialidade te parecer gigante, a alternativa é a montanara. Aparentemente é uma versão menor da pizza fritta, mas na verdade le montanare têm uma massa mais macia e são enriquecidas com molho de tomates, queijo ralado, manjericão e mozzarella.

Todas as especialidades citadas têm preços realmente atrativos e em Nápoles você pode comer gastando pouco. Alguém ainda dúvida que o street food napolitano é democrático?

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