Trani, entre o céu e o mar da Puglia
Na região da Puglia, no sul da Itália, existe uma cidade onde, aparentemente, a presença humana seria absolutamente dispensável. Trani é como um perfeito cartão postal; uma visão onde cada coisa está em seu devido lugar.
Já de longe nosso olhar é capturado pela catedral medieval de San Nicola Pellegrino, na Piazza Duomo. Seus tons de branco reluzente contrastam com o azul intenso do mar Adriático.
Diante de sua imponência, nada mais é urgente e a razão cede espaço ao impulso. A única vontade é sentar-se diante da igreja, sentir uma brisa leve e admitir a própria pequenez.
O burgo marítimo de Trani sempre suscitou o interesse de outras populações. No passado seu porto foi disputado por comerciantes de Pisa, Gênova e Ravello e, assim como outras cidades da região, Trani atingiu o seu apogeu durante o reinado de Frederico II.
Ele foi um soberano especial. Além de culto e poliglota (ele falava nove línguas), facilitou a convivência entre diferentes civilizações como aquela grega, árabe, hebraica e latina. Em Nápoles ele fundou uma das primeiras universidades públicas e laicas do Ocidente e apesar de seu domínio sobre vários territórios escolheu a Puglia para viver.
Não há como fugir desse nome. Se você visitar a Puglia ou outras regiões do sul da Itália cruzará com castelos construídos ou reconstruídos por esse personagem.
Trani não foge à regra e o seu castelo foi erguido pelo imperador entre 1233 e 1249. Apesar de ter sido reconstruído entre os séculos XIV e XV, o lugar ainda é bem preservado e você pode visitar as suas muralhas que chegam até o mar.
Nos arredores do castelo fica o branquíssimo Duomo de Trani, construído em pedra calcária. Erguida a partir de 1159, a catedral é dedicada a santo milagroso chamado São Nicolau o Pegregino, de origem grega. Seu exterior é um exemplo de arquitetura românico pugliese. Observe a rosácea e a janela em arco que decoram a sua fachada principal e o seu portão de bronze.
O edifício foi erguido sobre os vestígios de uma igreja mais antiga, provavelmente do VI século, e eles ainda podem ser visitados em uma área da catedral que fica a cerca de 1,60 metros sob o nível do mar. No interior da catedral os destaques são as suas criptas: Santa Maria della Scala, decorada por afrescos, e Cripta di San Nicola Pellegrino, que conserva o corpo do santo.
Depois de conhecer o Duomo, vale a pena caminhar até o porto, observar o vai e vem de barcos e fotografar uma profissão quase em extinção. Os pescadores de Trani ainda exibem orgulhosos o próprio pescado e não é difícil encontrar polvos fresquíssimos pendurados em varais improvisados.
Em seguida, uma experiência inesquecível é perder-se nos becos e ruelas ao redor do Duomo e apreciar os seus edifícios consumidos pela maresia até chegar ao antigo bairro judaico localizado de Trani. Uma de suas principais atrações é a Sinagoga Scola Nova, no passado também usada como igreja.
Para finalizar o passeio en Trani, fizemos uma pausa gulosa em uma sorveteria que é um verdadeiro achado: La Scimmietta (O macaquinho) e seus cinquenta sabores de gelato italiano. Além da recompensa para o paladar nos aguarda uma outra surpresa: o mastro gelataio é um jovem brasileiro que sai do laboratório para nos cumprimentar. Uma coisa similar também me aconteceu em Polignano a Mare. Evidentemente, a Puglia é amada pelos brasileiros!