Sexto Sentido

Brasileiros no exterior. É possível esquecer a língua materna?

Para os brasileiros que vivem no exterior, é possível esquecer o português? A própria expressão “língua materna” (em italiano, madrelingua) supõe, intrinsecamente, um vínculo indestrutível e perpétuo. Será mesmo assim?

Começo esse post pedindo desculpas aos leitores porque, provavelmente, nos mais de 600 artigos publicados no Post-Italy.com, vocês devem ter encontrado alguma incongruência linguística.

Nos últimos anos, notei uma espécie de curto-circuito quando “desligo o interruptor” do italiano para passar ao português.

Moro na Itália há 18 anos e já dominava a língua italiana antes de me mudar para cá. Ao contrário de muitos imigrantes que descobrem um novo idioma só quando se mudam definitivamente para o país escolhido, eu estudei a língua italiana e sua gramática seguindo o método tradicional, em uma escola. Um curso que durou três anos e que ocupava as tardes dos meus sábados. Por isso, não captei simplesmente o som das palavras, aprendendo a repeti-las. Distinguo a diferença sutil entre sinônimos, conheço expressões idiomáticas, o “peso” de cada vocábulo e as circunstâncias em que cada um deles pode e deve ser utilizado.

Meu contato com o português diminuiu. Apesar de ler jornais e livros brasileiros, passo a maior parte do tempo com italianos. Meu marido não é brasileiro e apesar de ter ensinado o português a minha filha, a língua dominante em casa é o italiano. Quando sonho, involuntariamente sonho em italiano.

Confesso que às vezes tenho dificuldade para lembrar imediatamente algumas palavras na língua materna e não é raro que eu invente palavras que são um misto entre o português e o italiano. E o pior de tudo é que nem sempre me dou conta disso. Já cheguei a escrever palavras que não tinham erros ortográficos, mas que em português assumiam um significado diferente daquele que tinha em mente. Obviamente, nem sempre essas palavras hibridas são detectadas como erros pelo corretor ortográfico.

Não tenho mais literalmente, na ponta da língua, a estrutura da língua materna. Alguns exemplos? Em italiano a expressão mais próxima de machucar-se é farsi male (traduzindo ao pé da letra, fazer-se mal). Então, em vez de dizer “ me machuquei” já disse “me fiz mal”.

Troquei “narinas” por “narizes”, palavra mais próxima do italiano “narici”. Usei a palavra “convivialidade “ para dizer sociabilidade.  A lista poderia ser longa.

O lado bom é que a ciência, em especial a linguística, explica esse problema não patológico com o nome de atrito, definido como a perda de uma parte ou da totalidade de uma língua por um falante bilíngue. No meu caso, além do italiano estudei outros idiomas que uso de maneira residual, em ocasiões como viagens.

Ciência a parte, acredito que a questão não é só linguística. No meu caso vejo a língua como algo fluido, em constante movimento. Quando você está totalmente imerso em outra cultura sem querer adquire outra estrutura ou elasticidade mental, raciocina seguindo duas linhas paralelas. O que não muda é aquele prazer imenso de encontrar a palavra certa, o equilíbrio certo quando escrevo em português. Isso, idioma nenhum pode alterar.

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