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Amor em pausa. Os casais separados pelo fechamento das fronteiras

Nenhum vestido de noiva ou ingresso acompanhado pela marcha nupcial. Nem troca de alianças ou chuva de arroz. A união da italiana Sofia Corsi, 32 anos, e do colombiano Juan Sebastian, 37, foi formalizada graças a um casamento por procuração.

Ela acompanhou a cerimônia via Skype, em Vicenza (Vêneto) e uma amiga assinou os documentos em seu lugar, na sede da embaixada italiana em Bogotá.

Os noivos não se encontram desde janeiro e depois de duas datas anuladas e três voos cancelados por causa da pandemia, eles decidiram que não renunciaram ao casamento, optando pela maneira mais burocrática de celebrá-lo.

A Europa está enfrentando novamente dias difíceis por conta do aumento exponencial nos casos de coronavírus e com a adoção de medidas cada vez mais restritivas e a exigência de limitar a circulação das pessoas, muitos casais que vivem distantes enfrentam dificuldades para reencontrar-se.

Desde março, quando a Itália entrou em lockdown, e foi decretado o fechamento das fronteiras internacionais para turismo, a vida sentimental dos chamados “binational couples” ou casais binacionais não tem sido nada fácil.

O caso de Sofia e Juan é emblemático de um impasse enfrentado por centenas de casais que ainda aguardam uma resolução por parte de órgãos diplomáticos.

Atualmente, na Itália, o ingresso em território nacional é permitido aos estrangeiros que queiram chegar à residência de uma pessoa com a qual exista relação afetiva comprovada e estável. Obviamente, nesse caso é obrigatório seguir precauções como 14 dias de isolamento fiduciário, mas a questão é que a norma exclui os cidadãos do chamado Grupo F, considerados fontes de maior risco de transmissão do coronavírus.

Fazem parte do Grupo F Armênia, Bahrein, Bangladesh, Brasil, Bósnia-Herzegovina, Chile, Colômbia, Kuwait, Macedônia do Norte, Moldávia, Montenegro, Omã, Panamá, Peru e República Dominicana.

A classificação dos países em grupos é passível de revisão prorrogação, mas até a publicação desse post, o decreto proíbe entrada e trânsito na Itália para pessoas que nos 14 dias antes da viagem à Itália, tenham permanecido ou transitado por um dos países citados acima, excluindo residentes na Itália e funcionários de representações diplomáticas ou de companhias de aviação.

Pensando em sensibilizar a opinião pública e as instituições internacionais sobre o tema dos casais binacionais, foi criada a plataforma Love is Not Tourism (http://www.loveisnnottourism), também compartilhada nas redes sociais. Ela sustenta que reunificação dos casais não pode ser colocada no mesmo plano de uma viagem de férias de verão. E promovem petições internacionais a favor da causa #loveisnottuourism

De acordo com a plataforma, países como a Alemanha, a Áustria, o Canadá, a Dinamarca, a Espanha, a Islândia, a Noruega  e a Suíça já estão revendo os próprios critérios de ingresso no país para casais binacionais.

Sara Resta, residente em Preganna Milanese, não vê o próprio companheiro, Carlos, originário da República Dominicana, há sete meses. Em uma carta aberta à mídia italiana ela sublinha o fato que os países do grupo F fazem parte de uma espécie de blacklist e a frustração de quem vive em um mundo globalizado mas que não tutela relações à distância. No seu caso, mesmo que casasse o companheiro não poderia ingressar na Itália porque só quem já residia no país antes do dia 9 de julho de 2020 é autorizado a entrar em território nacional.

Outra história comovente é aquela da milanesa Laura. Ela passou os nove meses da gravidez longe do companheiro Alberto, que estava no Equador.

Andrea Iannozzi, representante do movimento Love is Not Tourism na Itália deixa claro no manifesto do grupo que “o mundo não é só o resultado de relações econômicas e culturais, mas também afetivas”.

Estima-se que, na Europa, cerca de 10 mil casais enfrentem o problema da separação por conta das medidas anti-Covid19 e essa é mais uma das questões que, em um cenário de emergência, não são consideradas prioritárias. Amor em pausa.

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