Costa dei Trabocchi. A beleza primordial das palafitas de pesca
Mentalmente, tenho uma lista de lugares que gostaria de visitar na Itália e, para ser sincera, muitos deles não são os clássicos cartões postais.
Uma das últimas metas que consegui tirar desse elenco foi a chamada Costa dei Trabocchi, na região Abruzzo. Quem acompanha o blog sabe que, frequentemente, compartilho dicas de destinos menos conhecidos, de pacatos vilarejos, de regiões só aparentemente menos atraentes mas ricas de arte, história, paisagens e sabores.
A minha intenção não é convencer ninguém a abdicar da chance de conhecer os monumentos obrigatórios em uma viagem para a Itália. Muito menos inverter a pirâmide que coloca grandes e movimentadas cidades como Roma, Florença, Veneza e Milão como algumas das preferidas pelos turistas estrangeiros. Só não nego que além delas há uma Itália “menor”.
Aquela que não faz barulho na mídia internacional mas é tão fascinante quanto aquela divulgada pelos catálogos de grandes agências turísticas.
No Abruzzo, na Itália central, fica a Costa dei Trabocchi, uma faixa litorânea da província de Chieti banhada pelo mar Adriático.
Os chamados “trabocchi” (trabucos) assemelham-se a palafitas, mas para o poeta italiano Gabriele eram “aranhas colossais” ou “máquinas que pareciam viver em sua própria harmonia, ter um ar e uma efígie do corpo da alma.” No romance O triunfo da morte (1894) ele descreveu a beleza da região e, especialmente, do Trabocco del Turchino.
Essa parte de costa estende-se desde Francavilla al Mare e Ortona até Vasto e San Salvo, com paisagens que mudam a cada curva, mas também existem trabocchi nas regiões Puglia, no Parco Nazionale del Gargano, e no Molise. Na província de Chieti, praias de areia alternam-se a costas rochosas.
Para apreciar a beleza dessa faixa litorânea, sugiro que, de carro, você comece o seu itinerário por Ortona e siga na direção sul, passando pela graciosa San Vito Chietino e Marina di San Vito (que tem um terraço/belvedere espetacular) e chegando até San Salvo.
Se não puder visitar todo o litoral, não deixe de conhecer os trabocchi de Rocca San Giovanni e, principalmente, Punta Cavalluccio, um trabocco muito característico, mas difícil de ser visitado porque para chegar lá você precisará percorrer degraus improvisados entre pedras e a vegetação local.
Não se sabe ao certo quando foram construídos os primeiros trabocchi; provavelmente por volta de 1800. Com a carência de estradas, acredita-se que, no passado, eles facilitaram o carregamento de embarcações que transportavam e comercializavam mercadorias locais como cereais, azeite e sal no antigo Reino de Nápoles, na República de Veneza e até na Áustria.
As estruturas são fruto da relação ancestral entre o homem e o mar e na verdade com o passar do tempo foram transformadas em máquinas de pescar. É uma espécie de plataforma de madeira, na beira do mar, ancorada às rochas graças a robustos troncos de pinho.
Os trabocchi são ligados à terra firme por uma passarela e a parte que fica de frente para o mar possui um ou dois braços de madeira ou “antenas” (como são chamados) que sustentam uma rede para pescar. A genialidade desse sistema permite a pesca mesmo em caso de condições meteorológicas hostis, já que não é preciso navegar para apanhar peixes, mas basta afundar a rede no mar, que é acionada manualmente com cabos de aço ou, em alguns casos, automaticamente, graças à energia elétrica.
Atualmente, a maior parte dos trabocchi foi transformada em restaurantes à beira mar. A aparência rústica esconde uma atmosfera única e cozinhas que, em espaços reduzidos, realizavam pratos com o melhor da gastronomia local. No interior de um trabocco, a sensação é aquela de ser abraçado pelo mar, como você pode admirar nas fotos que realizamos no interior do Trabocco Sasso della Cajana.
Principalmente nos meses de verão, não é fácil conseguir uma mesa para jantar em um deles. Por isso, reserve com antecedência essa experiência se visitar essa parte de litoral.
A maioria dos trabocchi só abre à noite e o cardápio costuma variar de acordo com o pescado do dia. O preço médio é de 40 euros por pessoa para um menù que inclui entradas (que podem ser frias quentes ou marinadas), um primeiro prato a base de frutos do mar e um segundo prato como fritura de peixe, além de fruta e sobremesa.
Um dos pratos típicos é o caldo de peixe ou, em dialeto local, lu vrudatte, preparado em pratos de terracota e servido com azeite das colinas de Vasto e peperoncino. Quase sempre, a cozinha é administrada pela família dos proprietários dos trabocchi e a simplicidade unida à genuididade de locais como o Trabocco Pesce Palombo conquistou, inclusive, personalidades como o cantor Lucio Dalla e o ator francês Gerard Depardieu, entre os fotografados no local.
Alguns trabocchi como o Punta Tufano também organizam atividades didáticas para turistas e crianças, explicando os aspectos ambientais, históricos e culturais da pesca em um trabocco. Uma visita guiada de 1 hora, com direito à demonstração da pesca e degustação de produtos locais custa 3 euros por pessoa, mas essta atividade só acontece se a estrutura reunir pelo menos 10 participantes.
Ainda hoje os trabocchi são um dos símbolos do litoral do Abruzzo e me transmitem a sensação de beleza primordial, sem retoques.
Observando as estruturas de madeira ancoradas entre as ondas, elas parecem sofrer uma metamorfose. Enquanto a gente percorre de costas a passarela para voltar à terra firme, elas ganham vida. Levantam seus “braços” de madeira e nos abraçam com ternura, agradecendo quem não as julga pela aparência rústica.
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