Visitar a Última Ceia de Leonardo da Vinci em Milão
Se a curiosidade move o mundo, Leonardo da Vinci deu um grande empurrão ao progresso científico. Não limitou-se a procurar respostas, mas arregaçou as mangas e do seu remoto vilarejo em Anchiano, em Vinci (Toscana), antecipou o seu próprio tempo e aquele futuro.
Filho ilegítimo de um tabelião e de uma camponesa, foi educado principalmente pelos avós e pelo tio, que não demoraram para notar os seus inúmeros talentos. Colecionava qualidades. Foi escultor, engenheiro, anatomista, matemático, escritor, arquiteto, cientista e cenógrafo, mas entrou para a história como pintor.
Referindo-se a Leonardo da Vinci, Giorgio Vasari, pintor e arquiteto que por muitos é considerado o primeiro biográfo de artistas, afirmou que “às vezes os deuses concentram em um único homem beleza, talento e virtudes tão grandes que deixam para trás qualquer um”.
Da pequena Vinci, Leonardo passou por diversas cidades como Florença, onde ainda muito jovem frequentou o renomado laboratório artístico de Verrocchio, Roma e, em seus últimos anos de vida, Amboise, na França. Só que foi em Milão que o artista viveu um dos períodos mais significativos de sua vida. Graças à indicação do poderoso Lorenzo de Medici, ele escreveu um curriculum com todas as suas qualidades e entrou para a corte da família Sforza.
Ele chegou na cidade em 1482 e sua permanência em Milão durou quase duas décadas. Servindo o duque Ludovico Sforza (conhecido como o Moro) conquistou popularidade e foi consagrado como gênio. Uma das iniciativas que mais contribuíram com a sua fama foi a cenografia e o espetáculo que Da Vinci organizou para a cerimônia de casamento entre Galeazzo Sforza e Isabella d’Aragona.
Sua pintura mais famosa é La Gioconda ou Mona Lisa, mas durante o seu período milanês Leonardo da Vinci realiza outra obra-prima: a Última Ceia. A obra de arte fica no interior do refeitório do convento de Santa Maria delle Grazie e levou cerca de três anos para ser finalizada, de 1495 até 1498.
Para realizá-la o artista não queria recorrer ao afresco porque o revestimento de argamassa secava muito rápido em relação ao tempo que ele necessitava para realizar a pintura. Optou então por uma técnica mista chamada de tempera grassa, utilizando pigmentos dissolvidos com gema de ovo e óleo. A vantagem era ter tempo para intervir em caso de eventuais correções. O que ele não sabia é que ela provocaria a degradação prematura da obra.
A última Ceia retrata um episódio narrado no Evangelho de João; o momento no qual Cristo, rodeado pelos doze apóstolos, anuncia a traição iminente de um deles.
Provavelmente, ele começou a pintura da esquerda para a direita. A genialidade de Leonardo da Vinci pode ser notada em vários detalhes da obra que cobriu quarenta metros quadrados. Primeiramente, ele pensou na pintura usando a luz natural das janelas do refeitório. A centralidade da figura de Jesus é exaltada graças a um inteligente uso da perspectiva e, apesar de não notarmos essa peculiaridade, a mesa foi pintada ligeiramente inclinada para baixo. Isso para permitir que o olhar do espectador possa observar todos os utensílios e alimentos apoiados sobre ela. Pães, purê de nabo, um dos pratos preferidos de Ludovio Sforza, e fatias de enguia são alguns deles.
Os estudiosos sustentam que vinte anos após a sua conclusão a pintura começou a se deteriorar e a Última Ceia que vemos hoje é o resultado de um delicado restauro que durou 22 anos, de 1978 a 1999, realizado por Giuseppina Brambilla.
A pintura enfrentou inimigos como a umidade e a guerra. Depois de um bombardeio de 1943, permaneceu por quase um biênio ao aberto, coberta simplesmente por panos. Se ela resistiu a tantas desventuras, temos ainda mais motivos para não deixar de visitá-la.
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