DiárioSexto Sentido

Narrativa de viagem. Quando o retrato de uma meta é “distorcido” pela ostentação  

Sei que talvez o tema gere mal-estar, mas vou abordá-lo mesmo assim. Nas previsões sobre o turismo pós-pandemia, um dos insights era esse: “as pessoas valorizarão empresas e marcas comprometidas com o respeito ao meio ambiente e às comunidades locais, privilegiando experiências autênticas”.

Deixamos o Covid para trás e o setor do turismo voltou a movimentar bilhões.

Metas longínquas e exóticas ocupam novamente o feed das redes sociais.

Muitas vezes, a destino divulgado por influencers são países pobres, com desigualdades sociais, onde a população enfrenta dificuldades no acesso à educação e ao sistema de saúde. Podem ser capitais ou cidades onde existem linhas divisórias, contrastes gritantes. Barreiras arquitetônicas, outras ligadas à mobilidade, à salubridade, ao lazer, às áreas verdes.

De um lado, resorts de alto padrão com piscinas transbordantes. Da parte oposta da cidade, slums sem saneamento básico, escassez de água. Em um bairro silencioso, quartos com móveis realizados a mão, perfume de ambiente. Em zonas periféricas, o caos de um trânsito caótico, a poluição que atinge limites inverossímeis.

slum

De um lado, terrenos ocupados por megaempreendimentos como campos de golf.  Do outro, terrenos ocupados por lixo.

Para poucos hóspedes, mesas fartas. Para a maioria dos locais, pratos vazios.

A questão é que não é raro que influenciadores divulgam somete o lado “glossy” desses países, publicando conteúdo que glorifica a ostentação e um estilo de vida totalmente desvencilhado da realidade local.

Cada um tem a liberdade de optar por um tipo narrativa.  Exaltar a riqueza material (pelo menos aquela acumulada licitamente) não é proibido, mas será que é oportuno nesses contextos? Será que assim alimentamos um imaginário coletivo distorcido? E, enfim, subtraindo o quesito glamour, o que realmente esse tipo de informação e glorificação do materialismo acrescenta em sua rotina e planejamento de viagem?

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