
Pesaro, a capital italiana da cultura em 2024 onde tudo é beleza
Se você ainda não ouviu falar em Pesaro anote esse nome. Essa cidade da região Marche (em italiano, Le Marche) foi eleita capital italiana da cultura em 2024 e, do ponto de vista turístico, será a “bola da vez” do próximo ano. Não a deixe fugir do seu radar!
Para entender melhor a sua atratividade, vale a pena esclarecer alguns conceitos fundamentais.
O nome Le Marche faz uma alusão as marcas ou fronteiras medievais de lugares como Ancona, Camerino e Fermo. Quando no século IX Carlos Magno assumiu o cargo de imperador do Sacro Romano Impero, dividiu os territórios que dominava em feudos. Aquele situados ao longo das fronteiras, em alemão “mark”, eram administrados por marqueses escolhidos pelo próprio imperador.
Le Marche ficam na Itália central e a sua capital e Ancona. Esse território faz fronteira com a Toscana, a Umbria, a Emilia Romagna, a República de São Marino, o Abruzzo e o Lazio.
É banhada pelo mar Adriático e suas paisagens se dividem entre colinas onduladas, litoral com infinitas praias (quase 200 km), cidades repletas de história e arquitetura surpreendente, montanhas, um dos principais complexos de grutas da Europa, além de vilarejos fortificados.
É uma terra com uma forte identidade cultural. Basta pensar a província de Pesaro-Urbino foi governada pela poderosa dinastia dos Montefeltro e que graças ao duque Federico consagrou-se como um dos polos artísticos mais importantes do Renascimento.
Pesaro é uma cidade litorânea, mas classificá-la somente com esse adjetivo significaria subestimá-la, considerando as suas inúmeras riquezas.
Pessoalmente, acredito que ela pode ser uma ótima base para explorar o chamado “itinerário da beleza”, conceito idealizado pela associação Confcommercio Pesaro e Urbino/Marche Nord que representa um convite para uma verdadeira imersão no patrimônio natural, cultural e gastronômico das 21 cidades do território que integram esse circuito turístico.
Se a sua viagem até Pesaro coincidir com o verão, vale a pena saber que nessa época do ano ela é muito movimentada. Suas praias de areia – muitas delas classificadas com a certificação de qualidade Bandiera Blu – são procuradas por italianos e estrangeiros e para usufruir da maioria delas é necessário reservar guarda sol e espreguiçadeiras em um stabilimento balneare.
O que surpreende em Pesaro é que ela oferece opções de passeios o ano inteiro e que percorrendo o seu centro histórico, a pé ou de bicicleta, você não tem a sensação de estar em uma cidade de veraneio.
Para começar, a ciclovia que une Pesaro a Fano – chamada de Bicipolitana – é a via preferencial para o deslocamento de seus moradores e essa política pública inteligente evita o trânsito ao redor de suas principais atrações.
As surpresas começam já na beira do mar. Quem disse que praia não combina com arte e belezas arquitetônicas?
Na Piazza della Libertà, pare para fotografar a Sfera Grande, comumente conhecida como Palla di Pomodoro. A escultura, que parece flutuar, foi realizada por Arnaldo Pomodoro, o mesmo artista que desenhou a esfera presente nos jardins dos Museus Vaticanos, em Roma.
Ali ao lado, outra surpresa inesperada construída entre 1902 e 1907. O Villino Ruggeri, que por ser uma casa particular só pode ser admirada de fora, é um colírio para os olhos.
Uma moradia em estilo art nouveau perfeitamente conservada que, por sua aparência onírica, poderia ocupar as páginas de um conto de fadas.
Estamos acostumados a associar o conceito de beleza à algo tangível, a um objeto material ou a uma pessoa. Viajando pela região Marche, ainda pouco conhecida pelos brasileiros, cheguei a conclusão que ali tudo é beleza.
Aquela que encontramos nas composições de Gioachino Rossini, o cidadão mais ilustre de Pesaro, nos versos de Giacomo Leopardi, na delicadeza dos traços das pinturas de Rafael Sanzio, na geometria perfeita de suas fortalezas (em italiano, rocche) e até em pratos que exaltam os produtos da terra, como as trufas (tartufo) e do mar, como os sardoncini, peixinhos grelhados e crocantes com farinha de rosca e salsinha.
Vale sublinhar que a província de Pesaro Urbino é um dos principais distritos italianos que dedicam-se à agricultura orgânica e que aqui nascem excelências como o azeite de Cartoceto Dop, o presunto de Carpegna, o queijo ou Casciotta di Urbino e as favas de Fratte Rosa, além de vinhos top como o Pergola Rosso Doc ou o Bianchello del Metauro Doc.
Entrando no centro histórico de Pesaro, comece as suas explorações visitando a catedral de Santa Maria Assunta, a sua fachada românica, decorada com uma rosácea, e a sua rica pavimentação de mosaicos.
Ali pertinho fica a casa natal de Gioachino Rossini, um dos compositores de óperas mais famosos do mundo. O barbeiro de Sevilha é uma das mais conhecidas e mais executadas de todos os tempos.
No entanto, ela é apenas uma das mais de 30 óperas líricas compostas por Rossini ao longo da vida, como Cenerentola e La Gazza Ladra.
Imaginem que ele compôs a sua primeira ópera aos 18 anos de idade e teve um contrato permanente com a Ópera de Paris.
Em Pesaro você não pode deixar de visitar o Museo Nazionale Rossini, que em dez salas “narra” a vida do gênio permitindo, inclusive, que os visitantes participem de uma orquestra interativa. Movendo as mãos, é possível ouvir trechos de suas composições, isolando alguns instrumentos.
Rossini também é o protagonista do Rossini Opera Festival, que acontece anualmente em agosto. Ele é tão amado que em seus principais restaurantes você encontra uma pizza dedicada ao compositor.
O prato leva molho de tomates, ovo cozido e maionese, mas antes de torcer o nariz prove a pizza. Eu me surpreendi! Você pode prová-la no tradicional restaurante Polo Pasta e Pizza (Viale della Repubblica, 64)
A qualquer hora do dia, o principal ponto de encontro em Pesaro é a Piazza del Popolo, decorada com uma fonte monumental e o majestoso Palazzo Ducale.
O vai e vem de gente pedalando em bicicletas, os senhores e senhoras conversando e sua atmosfera elegante, mas descontraída, vão te conquistar.
Siga caminhando até a Piazzetta Mosca e antes de entrar no Museu Cívico observe o imponente grupo de esculturas realizadas pelo artista Giuliano Vangi.
Elas representam quatro personagens ilustres na região Marche: o poeta e escritor Giacomo Leopardi, de Recanati, Gioachino Rossini, de Pesaro, Rafael Sanzio, de Urbino, e o duque Federico de Montelfeltro, nascido em Gubbio, na Úmbria, e duque de Urbino.
Ainda no exterior do museu fica um cantinho instagramável. A instalação artística que serviu de cenário para a representação de Moise et Pharaon é uma cenográfica parede recoberta de livros onde é difícil resistir a tentação de tirar fotos.
No pátio do Museu Cívico, fica uma obra em cerâmica com a figura de uma Medusa. Seu autor, o artista Ferruccio Mengaroni, foi vítima de uma tragédia. Ele foi esmagado pela caixa que transportava a Medusa até uma exposição no norte da Itália.
O museu cívico no interior do Palazzzo Mosca (nome de uma das famílias nobres da cidade) é uma bela surpresa e ali chegou a se hospedar Napoleão Bonaparte.
Seu acervo inclui obras primas como a Pala dell’Incoronazione della Vergine, de Giovanni Bellini, quadros de Simone Cantarini e Guido Reni e uma riquíssima coleção de cerâmicas finas.
O museu também abriga um projeto inovador, a Sonosfera, um teatro com uma acústica perfeita onde o som provém de 45 caixas acústicas. Eu tive a chance de assistir um espetáculo dedicado ao pintor Rafael.
Depois de apreciar tanta cultura, a minha sugestão é que visite um pequeno vilarejo que fica a poucos quilômetros de Pesaro, Casteldimezzo.
O burgo fica sobre uma colina faz parte do Parque Natural Regional do Monte São Bartolo e já foi domínio das famílias nobres dos Malatesta, dos Sforza e dos Della Rovere.
O vilarejo é pequenino, mas ali você não pode perder o Santuário do Santíssimo Crucifixo. No século XVI, um navio afundou entre Fiorenzuola di Focara e Casteldimezzo, deixando na praia entre essas duas cidades uma arca com um crucifixo, de Jacobello del Fiore.
Assim teria iniciado uma disputa para decidir quem deveria ficar com a obra de grande valor. Os moradores de ambas as cidades acreditaram que o melhor era deixar a decisão para à Providência. O Crucifixo foi carregado em uma carroça puxada por dois bois, que imediatamente se deslocaram na direção de Casteldimezzo, parando em frente à igreja da cidadezinha. Caso resolvido!
Aproveite a sua ida até Casteldimezzo e almoce na Taverna del Pescatore, o lugar com uma vista deslumbrante do mar Adriático, até seguir viagem por outras maravilhas da região Marche.
Sou do Brasil e conheço relativamente bem a Itália, mas nunca estive nessa região .
Gostei imensamente do site e estou encantada com tudo que foi mostrado …
Obrigada querida! Fico feliz! se tiver interesse em descobrir mais sobre a região, também tenho um canal no YouTube onde publiquei video sobre Pesaro e outras cidades. Abs e Bom natal!