Quando a Itália reabrirá suas fronteiras para o turismo internacional?

Quando a Itália reabrirá as suas fronteiras? Se você é uma daquelas pessoas que está se sentindo desorientada diante de tantas notícias – muitas vezes deturpadas – sobre o futuro do turismo na Itália e o calendário de reaberturas no período pós-pandemia, não se preocupe. Você não é o único.

Depois que o governo publicou aquele que por aqui foi apelidado de “decretone”, com mais de 500 páginas e 250 minuciosos artigos para relançar a economia, até mesmo os italianos têm muitas dúvidas sobre o que é permitido ou não e em quais datas e regiões, já que a autonomia administrativa de algumas delas consente a adoção de normas que nem sempre coincidem com aquelas nacionais.

Não vou entrar em detalhes sobre cada ponto do “plano” adotado pelo governo, mas como o mundo ainda está de olhos bem abertos para analisar, talvez replicar as ações bem-sucedidas em solo italiano e julgar aquelas falimentares, vou elencar algumas das medidas ligadas ao setor turístico, que na Itália vale mais de 13% do PIB nacional.

Dos 55 bilhões de euros previstos no plano para alavancar a economia, 4 deles serão destinados ao turismo. Para incentivar a mobilidade interna, as famílias italianas terão direito a um “bonus vacanze”, uma espécie de voucher ou tax credit de até 500 euros para gastar em estruturas hoteleiras entre 1 de junho e 31 de dezembro de 2020.

A partir do dia 18 de maio a Itália reabrem gradualmente várias atividades comerciais como cafeterias, restaurantes, lojas e cabeleireiros. Em seu discurso em rede nacional, o premiê Giuseppe Conte sublinhou que “o risco foi calculado” e que o indicador R0 (erre con zero), que indica a taxa de transmissão, ou seja, a média de quantas pessoas são infectadas por alguém que testou positivo para o Covid-19, será monitorado constantemente. O ideal é que ele esteja abaixo de 1, quando uma pessoa transmite a doença para uma única outra. Em caso de eventual crescimento das estatísticas, novas medidas restritivas poderão ser adotadas.

Por enquanto, as regras de convivência ainda impõem a distância de pelo menos um metro entre as pessoas e o uso de máscaras em ambientes fechados ou em todas as ocasiões de possível contágio. Será necessário acostumar-se a novos hábitos como provar roupas com luvas, receber a hóstia, durante missa, com uma pinça, e aceitar que seremos submetidos a um termômetro para medir a febre antes de entrar em vários locais. Aconteceu comigo hoje de manhã, no supermercado. Prudência ainda é a palavra de ordem e, nesse sentido, grandes eventos como o Palio de Siena foram cancelados.

Cada cidadão poderá deslocar-se livremente no interior de sua própria região, inclusive para visitar amigos, mas evitando aglomerações. Para evitar o uso do transporte público e apoiar a mobilidade sustentável, também é previsto um incentivo de até 500 euros para a compra de bicicletas. No bairro EUR de Roma já começaram as obras para a construção de 150 km de ciclovias.

O verão europeu aproxima-se e com ele a necessidade de regras para usufruir das praias. Entre elas, a distância de pelo menos quatro metros entre um guarda-sol e outro, a exigência de desinfetar cadeiras e outros objetos compartilhados por mais de um cliente e reservar, provavelmente com um aplicativo, o próprio lugar ao sol. Em Ostia, por exemplo, no litoral romano, a ideia é que na praia livre seja permitido o ingresso de até 20 mil pessoas por dia. Nos últimos dias o que temos visto na TV são os proprietários de stabilimenti balneari, as estruturas nas praias a pagamento, com o metro na mão.

Em Roma, alguns museus também anunciarão que reabrirão suas portas ao público, mas nada será como antes. Os ingressos deverão ser reservados antecipadamente, on-line, e objetos como audioguias e touch screens não serão utilizados. Os primeiros museus a abrir na capital serão os Museus Capitolinos, o Palazzo Braschi, o Palazzo delle Esposizioni, a Galleria Borghese, o Maxxi e a Galleria Nazionale d’Arte Moderna e Contemporanea (GNAM). Permanecem fechadas áreas arqueológicas como o Coliseu, o Fórum Romano e as Termas de Caracalla.

Circular livremente entre uma região e outra da Itália (no total são 20) só será possível a partir de 3 de junho. Na mesma data, a Itália reabre as suas fronteiras para cidadãos dos países membros da União Europeia, sem exigir que eles se submetam à quarentena.

No último dia 15 de maio, a Comissão Europeia divulgou algumas indicações não vinculantes aos países da área Schengen, sugerindo a adoção do princípio de não-discriminação em matéria de fronteiras. Em outras palavras, se um país decide abrir a circulação em seu território, deve permitir o ingresso aos cidadãos de todos os países da UE com situação epidemiológica similar.

A notícia que países como a Áustria anunciou a reabertura de fronteiras com a Alemanha, Liechtenstein e Suíça, mas não com a Itália causou um certo mal-estar em solo nacional. O ministro da cultura e do turismo, Dario Franceschini, declarou que “A Itália não aceitará acordos bilaterais entre os países”.

Ainda sobre fronteiras, outra hipótese estudada pela Comissão Europeia é autorizar a circulação na área Schengen baseando-se em critérios regionais e não nacionais, dividindo os países em zonas verdes e vermelhas, de acordo com parâmetros como índice R0 inferior a 1, número de leitos de UTI suficientes e sistemas eficazes de testes e monitoramento.

Atualmente, estima-se que as viagens intracomunitárias representem entre 60% e 80% do turismo de países como a Espanha, a Itália, a Grécia e a Croácia e que o turismo equivale a 10% do PIB da União Europeia, cerca de 1.400 bilhões.

A segurança ainda é o fator decisivo para a reabertura das fronteiras, pois o temor de uma segunda fase de contágios ainda é grande. Por enquanto, o Centro europeo per la prevenzione e il controllo delle malattie (ECDC) terá um papel fundamental em um afrouxamento de restrições à circulação europeia. O orgão europeu responsável pela prevenção e controle de doenças controla continuamente a capacidade dos países na contenção e controle do coronavírus através de aplicativos, e atualiza constantemente a lista de países com número reduzido de casos.

Se a situação europeia continuar estável, os planos da CE são a abertura total das fronteiras entre os países da área Schengen até 15 de junho. Por enquanto permanecem fechadas as fronteiras para passageiros originários de países extra União Europeia, mas tudo indica que para a circulação intercontinental as regras que deverão ser respeitadas serão as mesmas. Ou seja, é provável que somente passageiros provenientes de países com baixos índices de transmissão e pleno controle do coronavírus poderão cruzar as fronteiras europeias. Em outras palavras, para brasileiros muito dependerá do controle da pandemia no Brasil.