Rodi Garganico. Entre as praias da Puglia e o perfume de frutas cítricas
Há alguns anos, o sul da Itália, em especial a Puglia (Apúlia), tem sido uma das principais metas italianas ligadas ao turismo religioso, gastronômico ou simplesmente de lazer em paisagens fascinantes.
Quem me acompanha sabe que há anos dedico espaço a essa terra, não só como destino de turismo de veraneio, mas também como reduto do “turismo das raízes”, ou seja, a receptividade e os serviços às pessoas que vêm do Brasil, da Argentina e de outros países para conhecer a terra de seus antepassados.
A Puglia é uma região longa e vasta. São centenas de quilômetros que você pode percorrer de carro e cada parte dela tem suas peculiaridades.
Para falar sobre ela, é preciso esclarecer alguns detalhes sobre sua geografia. O Gargano, por exemplo, também conhecido como o esporão da Itália, é muito diferente da província de Bari, do território leccese, caracterizado pelo estilo barroco de seus palácios, ou do porto de Taranto.
Desta vez, a protagonista do artigo é Rodi Garganico, um município que faz parte do Parque Nacional do Gargano, um território que une florestas e belas praias.
Como quase todo o Gargano, Rodi Garganico é conhecido pela produção de frutas cítricas como as laranjas do Gargano e os limões Femminello, hoje reconhecidos como produtos IGP (Indicação Geográfica Protegida).
Rodi Garganico está localizada no litoral norte do Gargano, em um trecho de costa com cerca de doze quilômetros de extensão.
Pela qualidade de suas águas, foi várias vezes premiada com a “Bandeira Azul”, um reconhecimento atribuído pela Foundation for Environmental Education.
A área habitada está situada em um promontório rochoso, entre duas longas praias de areia finíssima. O centro histórico é de origem medieval, assim como as muralhas que o cercam, e é caracterizado por vielas estreitas, em grande parte íngremes que se insinuam em um tecido urbano composto por casas de arquitetura uniforme, construídas de maneira que de cada uma delas seja possível avistar o mar.
Entre seus bairros, destacam-se o Vuccolo e o Chépe abbasce (de cabeça para baixo). Aliás, se for até lá aproveite para aprender algumas palavras no dialeto local.
Vuccolo é o nome pelo qual ainda hoje é chamada a zona portuária. A etimologia do nome deriva do verbo longobardo “vucculare”, que significa gritar, chamar. A área do porto é conhecida assim por causa do hábito típico das mulheres locais de chamar (vucculare) das varandas os maridos empenhados em trabalhar as redes no “Mer’i varc” (“mar dos barcos”).
O bairro Chépe abbasce é caracterizado por vielas estreitas, escadarias íngremes, arcos, pracinhas escondidas e terraços panorâmicos. As vielas e a disposição das casas respondiam à dupla necessidade de se proteger dos fortes ventos de inverno e, ao mesmo tempo, avistar o mar.
Passear pelos becos dos bairros é a melhor maneira de interagir com os locais e conhecer costumes locais. Eu, por exemplo, tive a chance de conhecer a Lucia, que mora em Rodi Garganico, onde tem uma linda loja, mas nunca perde a chance de viajar pelo mundo.
Os rostos dos locais representam a verdadeira alma de Rodi Garganico. Como não se perguntar que historias viveu um senhor como esse?
O bairro era habitado predominantemente por Rodi Garganico é cercada por uma vegetação exuberante, composta principalmente por frutas cítricas, oliveiras e figueiras.
Percorrendo as estradas rurais que vão do litoral até San Menaio e sobem em direção às colinas, é possível observar vastas plantações de laranjas e limões. Em maio, período de florada, sente-se por toda a costa o intenso perfume das flores de laranjeira.
Pequenos faraglioni (formações rochosas) enriquecem o trecho de costa onde se ergue a cidade. O maior e mais famoso é chamado de “Cão” (ou “Leão”) devido à sua forma peculiar que lembra um cão ou um leão, que protege a cidade contra os perigos do mar.
No topo rochoso do penhasco a leste dos faraglioni encontra-se um antigo trabucco, uma imponente estrutura de madeira tradicionalmente usada para a pesca, típica do Gargano e como tal protegida pelo Parque Nacional.
O trabucco de Rodi Garganico foi recentemente reconstruído em ocasião da construção do novo porto turístico. Já falei sobre essa antiga máquina de pescar, os trabocchi, ao escrever sobre a região Abruzzo, que concentra muitos deles.
Cerca de 37 quilômetros através do Adriático em direção nordeste separam Rodi Garganico do arquipélago das Ilhas Tremiti, um dos primeiros lugares totalmente “plastic free” do Belpaese. O arquipélago é composto por cinco ilhas: San Domino, San Nicola, Capraia, Cretaccio e Pianosa. A ilha mais extensa é San Domino, que possui florestas de pinheiros. Ao redor da ilha encontram-se várias cavernas, visitáveis de barco.
San Nicola é a ilha com mais monumentos, cheia de igrejas e claustros, abrigando a maior parte dos testemunhos históricos das ilhas. A fortaleza-abadia de Santa Maria a Mare é certamente uma das mais importantes testemunhas históricas da ilha, juntamente com torres e fortificações imponentes.
Capraia abriga uma grande colônia de gaivotas, enquanto Cretaccio é pouco mais que um rochedo e serve como uma passagem natural entre as ilhas maiores e mais importantes, ou seja, San Domino e San Nicola. Pianosa está bastante distante das outras ilhas, a cerca de vinte quilômetros a nordeste, mas administrativamente pertence às Ilhas Tremiti.
As companhias que operam as rotas para o arquipélago das Tremiti a partir da península são diversas, de vários pontos da Puglia e também do Abruzzo. A companhia que serve Rodi Garganico é a NLG. A travessia de balsa (que não acontece o ano inteiro) prevê uma viagem por dia e o percurso dura 1h15min. Os preço médio é de 23,50 euros por pessoa.
A culinária de Rodi Garganico é outro ponto forte da cidade. Os pratos típicos da região refletem a riqueza do mar e da terra da Puglia. Entre as especialidades locais, destacam-se os frutos do mar, a massa feita em casa e o azeite de oliva extravirgem. Imperdíveis são também os doces tradicionais como os taralli doces e as cartellate com o “mosto” de uvas, muitas vezes preparados durante as festividades.
Como em qualquer pequeno município da Itália, Rodi Garganico não fica sem festividades tradicionais, culturais e religiosas. Se você estiver na região em agosto, saiba que no dia 16 do mês celebra-se o santo padroeiro, São Roque, com procissões, concertos e fogos de artifício. Outro evento importante é na primavera, a Sagra das Laranjas, dedicada ao produto mais famoso do Gargano.