Vórtice de emoções. Rotina dos italianos em tempos de quarentena
Imagine um jogo de tabuleiro. Onde você é obrigado a parar uma rodada enquanto os outros peões avançam. Você, estático, imóvel em uma posição que lhe foi imposta. Essa é a condição da Itália no dia seguinte aquele que entrará para a história como a data na qual a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia de Covid-19.
Para a país, o anúncio tem um peso relativo. As medidas adotadas pelo governo são as mais restritivas possíveis. Só serviços essenciais, como por exemplo supermercados, farmácias e postos de gasolina, permanecerão abertos.
A rotina de 60 milhões de habitantes, agora, é aquela dentro de quatro paredes. Saídas só em casos de necessidade. No condomínio, não ouço mais os saltos apressados que descem as escadas.
Pode o silêncio ser ensurdecedor? Acordamos e tentamos interceptar, da sacada, aquele raio de sol ou o rosto de alguém conhecido que não caminha na rua. Lá embaixo não há passos. Não há buzinas apertadas com veemência. Nem cães que seus donos seguram orgulhosamente pela coleira.
As roupas nos varais que oscilam com o vento são um dos poucos sinais que os ouvidos conseguem captar. É movimento. É vida.
Chega a ser um silêncio constrangedor, que nos espia de longe e se diverte porque não conseguimos driblá-lo. Nem quando os pensamentos se acumulam para não lhe dar brecha.
A sensação é que a linha sutil que separa o dia da noite tenha desaparecido e que fomos engolidos por um vórtice como aquele pintado por Michelangelo no Juízo Final. Enfermeiros exaustos ainda em ação são como os anjos que no afresco perdem suas asas.
A Itália como nós a conhecemos, por enquanto não é mais Itália. Não aquela do barulho contínuo das xícaras de espresso nas cafeterias. Não aquela dos abraços distribuídos sem parcimônia, até para uma recém conhecido. Não aquela do esbarrão, as vezes proposital, para furar a fila no supermercado. Não aquela da conversa jogada fora. Dos passeios ao ar livre. Dos domingos nos museus ou estádios de futebol. Nem aquela de selfies despreocupados ou de uma pitada de cinismo para justificar as próprias certezas.
As certezas foram substituídas por rostos austeros, pela insegurança, o mesmo sentimento que levou centenas de pessoas a deslocarem-se do norte par o sul do país depois do anúncio que as fronteiras da Lombardia e de outras 14 províncias italianas seriam fechadas. O mesmo medo que provocou rebeliões entre os prisioneiros de vários cárceres do país. Tentamos manter a lucidez e a calma, mas às vezes o aperto no peito chega fácil.
É inegável que as estatísticas, as declarações contrastantes da comunidade científica, os discursos nos talk shows, a guerra das fronteiras entre países europeus e agora com os EUA criaram um efeito barril de pólvora.
A Itália já enfrentou momentos históricos difíceis, como as enchentes de Florença, os anos de chumbo do terrorismo, os atentados da máfia, os terremoto que destruíram cidades como Amatrice e L’Aquila e a zona da Irpinia, demonstrando que, na dificuldade, um sentimento coletivo de solidariedade pode ser de grande conforto.
Ainda é cedo para fazer previsões ou balanços. Por enquanto, é o momento de nos unirmos, mesmo que separados por quatro paredes. Quando tudo voltar ao normal, provavelmente não nos lamentaremos mais do vizinho barulhento.
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