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Margherita di Savoia e as salinas que moldaram vidas italianas

Qual a forma da riqueza ou da pobreza? E se eu te disser que, no passado, a primeira era associada a grãozinhos brancos que hoje conhecemos com o nome de sal e que chega a ser considerado um alimento pouco significativo, mas já foi sinônimo de riqueza e poder?

Salinas Margherita di Savoia Puglia Italia

Em contrapartida, a pobreza extrema era evidente nos rostos e nos corpos queimados pelo sol de quem trabalhava arduamente nas salinas, como aquelas de Margherita di Savoia, na Puglia?

O sal mudou os rumos da história. Permitiu a conservação de alimentos, conquistou o status de moeda de troca, foi motivo de rivalidade entre Florença e a República Marítima de Pisa, que em 1100 bloqueou o fornecimento de sal à cidade inimiga, que a partir de então e até hoje produz o pane sciappo (pão sem sal).

A sua relevância também ficou clara durante o Império romano. Os soldados das legiões podiam ser pagos com porções de sal, as Salarium Argentum que deram origem à palavra salário. Se você já esteve em Roma, também deve ter notado que uma de suas estradas mais antigas é a chamada Via Salaria, que unia Rieti até o Castrum Truentinum (Porto d’Ascoli), no Mar Adriático.

Salinas Margherita di Savoia Puglia Italia

Visitar uma salina na Itália é uma maneira de percorrer uma página importante da história desse país e de entrar em contato direto com um ecossistema riquíssimo, como aquele de Margherita di Savoia, terra habitada por elegantes flamingos e onde são cultivadas verduras de sabor delicado e inimitável, graças à combinação de águas salgadas e terrenos vulcânicos ricos em argila. A cenoura de Margherita de Savoia, por exemplo, é mais crocante e adocicada.

As praias de Margherita di Savoia, que ficam na província de Bari-Trani, Andria, são as mais salgadas da Europa e suas salinas ocupam cerca de vinte quilômetros de extensão. A zona é reconhecida como reserva natural.

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O que nem todo mundo sabe é que até 1879 essa cidade, assim como a vemos hoje, não existia e era chamada de Saline di Barletta. Margherita di Savoia foi projetada, construída e nomeada em homenagem à rainha homônima, a primeira first lady da Itália unida.

No passado, ela era um aglomerado de casas de palha e a sua história conturbada inclui grandes disparidades sociais. Na metade do século XVIII, o rei Carlo III di Borbone, que ocupava o trono de Nápoles, ordenou ao famoso arquiteto Luigi Vanvitelli (o mesmo que projetou a Reggia di Caserta) um projeto arquitetônico que otimizasse a extração do sal.

Hoje você nota que a cidade é formada por um reticulado de ruas paralelas e edificios baixos para facilitar a circulação das correntes de ar do mar até as salinas.

A modernização, no entanto, não facilitou a mobilidade social. As salinas continuaram a ser uma propriedade administrada por poucos e as condições de seus trabalhadores não eram as melhores.

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Para entender melhor o seu passado, não perca a chance de conhecer o Museo Storico della Salina, que com um percurso narrativo e a companhia de seu diretor, Gaetano Di Pace, transformam essa visita em uma experiência transformadora.

Ele conta que nas salinas trabalhavam inteiras famílias, mas somente os homens eram retribuídos com o sistema “a cottimo”. Em outras palavras, a retribuição era proporcional ao rendimento do trabalhador e não em base ao tempo dedicado ao trabalho.

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Para proteger as crianças descalças, as mães produziam uma espécie de sola de sapato, com a argila seca grudada nos pés. Muitos trabalhadores corriam o risco de cegueira, com a luz forte que refletia no branco intenso das salinas. As mulheres, que para contribuir com a economia doméstica podiam esconder um punhado de sal nos seios, estavam sujeitas à queimaduras.

A minha visita ao museu continuou com a exploração das salinas e com a observação dos flamingos, em uma experiencia de bird watching.

Salinas Margherita di Savoia Puglia Italia

Gaetano também explica aos turistas que as areias das praias de Margherita di Savoia são escuras porque contêm ferro proveniente do Monte Vulture, um vulcão inativo que fica na região vizinha, a Basilicata. Para demostrar esse fato, ele mostra que um imã atrai imediatamente uma folha com a areia local. Hoje, essa rica biodiversidade composta por águas, sais e argilas com propriedades terapêuticas são colocadas à disposição dos turistas nas termas locais que oferecem tratamentos estéticos e curativos.

O melhor momento para contemplar a beleza das salinas de Margherita di Savoia é no final da tarde, com o pôr do sol que cria um contraste entre a cor do céu e as águas.

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Se puder, visite também Torre Petra, uma torre que antes pertencia a uma cidade medieval, usada para o controle do mar e em seguida, como alfândega.

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Para intuir a sua importância, vale a pena saber que no fundo do mar diante da torre, a 20 metros de profundidade, foram encontrados os restos de um navio de origem romana, repleto de ânforas e outros objetos. Em breve, graças ao projeto de turismo lento que valoriza torres e faróis chamado Interreg Cohen, ele será transformado em um museu do mar.

Museo Storico della Salina

Corso Vittorio Emanuele, 99

Reservar ingresso antecipadamente no e-mail info@museosalina.it

Para saber mais sobre a Puglia, assista:

O que fazer na Puglia no sul da Itália. Dicas para explorar a região com os cinco sentidos.

Sobre salinas italianas, leia também:

Sapore di sale. Entre os moinhos de vento das salinas de Trapani e Marsala

 

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