Sete experiências autênticas e nada banais em Siena

Quando a gente pensa em uma viagem até Siena, na Toscana, provavelmente imagina um dia dedicado a famosa Piazza del Campo, às ruelas ao seu redor e talvez em uma visita ao Duomo para admirar os seus pilares com listras de mármore e o seu piso, descoberto e exibido ao público somente durante poucos dias por ano para garantir ao máximo a sua preservação.

Vai por mim. Não faça como a maioria dos turistas, aqueles que relegam Siena a um apressado bate-volta, perdendo a chance de descobrir que a grandiosidade da cidade do Palio – a principal rival de Florença – não ficou apenas nas páginas daqueles livros de história que contam o seu apogeu, entre 1260 e 1348.

Ela transparece em afrescos, monumentos, cantinhos secretos, no cotidiano de suas dezessete contrade (bairros) e até em suas especialidades gastronômicas. Quer apostar?

Então confira essas sete sugestões de experiências para vivenciar o lado mais autêntico de Siena.

Escola de política no Palazzo Pubblico

Em um período de relações geopolíticas conturbadas como aquele atual, nos perguntamos com frequência quais são as características de um governo virtuoso.

Essa resposta você encontra no interior do Palazzo Pubblico, edifício que ainda mantém o seu antigo papel de prefeitura de Siena desde 1297, mas que também abriga o Museo Civico da cidade.

Na chamada Sala della Pace ficam os famosos afrescos de Ambrogio Lorenzetti: Alegoria do bom e mau governo, concluídos em 1338. A obra personifica Siena em uma imagem feminina e narra em detalhes a dicotomia entre o governo dos justos e uma tirania. Em uma cidade livre, o governo tutela todos, sem distinção e inspira-se na justiça divina.

Esses valores podem ser notados em homens, todos da mesma altura, em cenas da vida cívica e no pacto coletivo em nome do bem comum. Já na tirania há uma alusão aos pecados capitais, ao perigo de uma guerra civil e à violência. Essa é considerada uma das pinturas mais importantes da Idade Média.

Assistência universal, para todos, em Santa Maria della Scala

Quem passa diante do enorme complexo de Santa Maria della Scala, ao lado Duomo, não imagina qual era a sua função no passado.

Hoje o local funciona como museu com um acervo de mais de mil anos de história, mas desde o século XIII foi um hospital que se manteve ativo até poucas décadas atrás. Santa Maria della Scala acolhia pobres e os peregrinos que atravessavam a Via Francigena e também era um orfanato e com uma seção masculina e outra feminina.

Florença orgulhava-se de seu Ospedale degli Innocenti, enquanto Siena tentava traduzir em maravilhosos afrescos a sua grande missão.

Ao entrar na gigantesca Sala del Pellegrinario, decorada por Domenico di Bartolo, observe os detalhes das pinturas: desde a distribuição de esmolas até o casamento de uma órfã crescida no hospital. Era uma espécie de cartão de visitas da época, uma ótima estratégia para atrair doações. Você poderá percorrer todos os seus andares, até chegar aos labirintos subterrâneos, áreas que conservavam o granaio (armazém de trigo) e um carnaio, local onde eram enterrados os corpos dos pacientes do hospital.

A vista do alto do Facciatone

Para admirar toda a magnificência de Siena a 360 graus, vale a pena comprar antecipadamente o OPA Si Pass e enfrentar alguns minutos de fila para subir no chamado Facciatone, a fachada do Duomo Nuovo.

Em 1339, um projeto arquitetônico deveria ampliar a catedral de Siena com a construção de outra nave. Com a epidemia de peste, em 1348, a ideia não se concretizou. As obras foram interrompidas definitivamente em 1357. Hoje, a lateral da nave inacabada abriga o Museo dell’Opera del Duomo.

Infelizmente, depois de subir os degraus você só terá poucos minutos para admirar a vista panorâmica. Isso porque somente poucas pessoas por vez tem acesso ao Facciatone. Aproveite e faça muitas fotos. Só não aconselho o passeio se você sofre de vertigem!

Torcida, orgulho e cavalos

Se você acha que o futebol é o único esporte capaz de atrair multidões e de palpitar corações é porque nunca esteve em Siena nos dias 2 de julho e 16 de agosto, datas do Palio, a corrida de cavalos sem sela que acontece na cidade desde 1644. As 17 contrade (bairros ou distritos) ocupam a Piazza del Campo e torcem fervorosamente pelo próprio fantino (jóquei). A corrida dura apenas 90 segundos e são transmitidas pela TV.

Os cavalos são escolhidos por sorteio e benzidos na igreja. Cada contrada possui um próprio brasão e cores diferentes e nos dias que antecedem a competição acontecem desfiles com trajes e bandeiras.

O prêmio é o Palio, uma bandeira de seda realizada, cada ano, por um artista diferente. Se a mesma contrada vencer a competição em julho e agosto, costuma se dizer informalmente, na Toscana, que “fa capotto”.

Para entender a relação simbiótica que une os moradores de Siena ao Palio, uma experiência única é visitar a sede de uma contrada e aprender a sua história. Eu tive a chance de conhecer de pertinho aquela da Tartuca, de contemplar os diversos palios vencidos por ela, de entender o quanto o sentimento de pertencimento e comunidade são intrínsecos a cada contrada. Você pode reservar a sua visita ao Museo della Contrada della Tartuca gratuitamente na Via Tommaso Pendola.

Happy Hour com vista para a Piazza del Campo

Um programa superexclusivo. Imagine abrir a janela ou sentar-se em um terraço e ter a sensação de dominar a Piazza del Campo, a mais famosa de Siena. Isso é possível na Torre di Roccabruna. Se trata de um apartamento particular, uma torre que competia em altura com a Torre del Mangia.

Em ocasiões especiais, sua proprietária abre as portas de seu apartamento a poucos e selecionados hóspedes para a realização de eventos como um jantar romântico, uma reunião empresarial ou happy hour para celebrar um momento inesquecível.

Tudo acompanhado por um cardápio de produtos locais e pratos preparados por um chef italiano. Você também pode se hospedar no apartamento e viver a emoção de quase poder tocar a Torre del Mangia. Para mais informações, consulte o site www.torreroccabruna.it

Vera cucina toscana

Fuja dos restaurantes caça turistas e saboreie a verdadeira culinária toscana no restaurante Bagoga (Grotta di Santa Caterina).

Prove o pici, típica massa fresca com ragù de javali, a ribollita, sopa de verduras com pão e requentada, a pappa al pomodoro, prato pobre a base de pão, alho, majericão e tomates ou la scottiglia, picadinho com diversos tipos de carne.

Na sobremesa, prove a combinação insólita entre queijos pecorino (com leite de ovelhas) e o panforte, doce senese com frutas secas.

Rede subterrânea

Os chamados bottini compõem uma rede de aquedutos subterrâneos que ainda hoje alimentam as fontes da cidade. Como Siena fica em uma colina, para garantir recursos hídricos à população teve que recorrer a técnicas sofisticadas como escavar a rocha porosa que caracteriza a cidade, criando um sistema de túneis que armazenam a água.

Se trata de um percurso de 25 quilômetros de extensão e a prefeitura da cidade permite visitas guiadas de pequenos grupos a uma parte desse labirinto. Para reservas, basta enviar e-mail para ticket@comune.siena.it indicando a data de seu interesse, número de participantes e um telefone para contato. Esse ano, as reservas poderão ser feitas a partir de setembro de 2023. Galochas e uma tocha elétrica são aconselhadas.