Marsala, Sicília: degustação de vinhos na histórica Cantine Florio
Uma viagem para a Sicília não é completa sem uma imersão enogastronômica na cultura local. Apreciada pela riqueza e de variedade de sabores, a região é sinônimo de melting pot culinário. Pela Sicília passaram povos como os gregos, os romanos, os cartagineses, os bizantinos e árabes, entre outros, em uma fusão de tradições que não poderia não se refletir nos sabores, nos sítios arqueológicos e na hospitalidade locais. O próprio nome de uma de suas cidades mais famosas, Marsala, deriva do árabe Marsà Allah (porto de Deus).
A Sícilia orgulha-se de seu patrimônio enogastronômico e um dos territórios mais interessantes para desvendá-lo é aquele situado na costa ocidental da ilha, uma zona que revitalizou enoturismo com adegas sofisticadas que surpreendem os paladares em busca de fortes emoções.
Depois de conhecer a paisagem das salinas de Marsala, você pode aproveitar para explorar a cidade portuária onde, em 1860, junto com a Expedição dos Mil, desembarcou Giuseppe Garibaldi para conquistar o Reino das Duas Sicílias e levar adiante a unificação da Itália.
Marsala também é famosa pelo vinho homônimo produzido desde o século XVIII e não distante do porto fica uma das cantinas históricas da cidade; Le Cantine Florio, desde 2003 abertas ao público para a degustação de vinhos apreciados no mundo todo. A cada ano, mais de 50 mil visitantes passam por lá.
O Marsala é associado como um vinho licoroso símbolo da Itália, ma na verdade não foi inventado por um italiano. O mérito é de um britânico. Em 1773, o comerciante John Woodhouse deveria chegar a Mazara del Vallo, mas uma tempestade o obrigou a fazer uma parada em Marsala. Em uma taberna ele provou um vinho local, o Perpetuum.
O nome da bebida não era casual, já que nos barris de vinho dos anos precedentes era acrescentado aquele novo. Sendo assim, eles nunca esvaziavam-se e continham o vinho eternamente, de maneira perpétua. Intuindo o potencial de mercado da bebida, Woodhouse decide levá-la até à Inglatterra, mas para evitar que o produto se deteriorasse durante a viagem decidiu adicionar álcool aos barris. Chegando em sua terra natal, constatou que o vinho era ainda melhor do que aquele provado inicialmente.
Woodhouse voltou para Marsala e apostou na fabricação da bebida in loco utilizando o chamado método Solera, já empregado em Portugal e na Espanha. De acordo com essa técnica, os barris de carvalho são dispostos em filas sobrepostas. Seguindo a lógica de um sistema piramidal, inicialmente são preenchidos de vinho os barris presentes no alto, que safra após safra é transferido para os barris do nível inferior até chegar na última fila de barris próxima ao chão com o vinho que será engarrafado.
A mistura de diferentes safras garante ao vinho intensidade de sabores e aromas e em pouco tempo, graças ao almirante Nelson, o Marsala tornou-se uma das mais consumidas a bordo dos navios das frotas britânicas.
Depois do sucesso outras duas famílias inglesas dedicaram-se à produção do vinho e a partir de 1833 foi a vez de um italiano, Vincenzo Florio, apostar na produção do Marsala. Ele comprou a fábrica Woodhouse e tornou-se o primeiro produtor mundial de Marsala, o primeiro vinho siciliano a obter a certificação DOC (Denominazione di Origine Controllata).
Desde 1984, a legislação italiana também estabeleceu que o Marsala só pode ser produzido na província de Trapani, excluindo Alcamo e as ilhas de Pantelleria e Favignana. Conforme a sua coloração, o Marsala pode ser classificado como Ouro ou Ambra (com uvas brancas Grillo, Catarratto, Inzolia e Damaschino) ou Rubi (uvas escuras de Nero d’Avola, Perricone (Pignatello) e Nerello Mascalese. De acordo com a sua riqueza em açúcar o vinho também pode ser considerado como seco (abaixo de 40gr/litro), semiseco entre 40 e 100gr/litro) e doce (acima de 100 gr/litro).
Outra distinção refere-se ao tempo de envelhecimento. O vinho Marsala pode ser considerado Fine (um ano), Superior (dois anos), Superior Reserva (quatro anos), Virgem ou Virgem Solera (envelhecido pelo menos cinco anos) ou Virgem Reserva ou Vergine Stravecchio (pelo menos dez anos).
A rica família Florio exportou o gosto pelo vinho e seus navios, além de cruzarem oceanos transportando a bebida, também serviram à Giuseppe Garibaldi e aos seus soldados para desembarcarem em Marsala.
Garibaldi chegou a visitar a Cantine Florio e a provar o Marsala. Pelas narrações de família, ele teria apreciado a versão mais doce do vinho e, em sinal de reconhecimento à lealdade de Vincenzo Florio, lhe presenteado com algumas de suas armas, ainda expostas na adega. A visita à Cantine Florio é uma experiência que atiça os cinco sentidos. Em um ambiente fresco e silencioso como aquele de uma catedral são armazenados cerca de 5.500.000 litros de Marsala.
No ar, uma mistura de aromas penetra as narizes e os imensos barris capturam imediatamente o nosso olhar. Percorremos longos corredores de 165 metros recobertos por 104 arcadas e circundados pela história.O passo seguinte é a sala de degustação Donna Franca, onde cada visitante tem a chance de provar uma experiência gourmet que mescla quatro tipos de Marsala: Fino, Virgem, Superior e Reserva acompanhados por alimentos que exaltam suas qualidades. Uma verdadeira sinfonia de sabores como baunilha, açúcar mascavo, damasco seco, avelãs tostadas, chocolate, creme brûlé e fumo.
O Marsala é um vinho licoroso ou fortificado com um teor alcoólico mínimo de 17%. Principalmente o Marsala Virgem DOC Reserva é um vinho de meditação, indicado para momentos especiais. A longa permanência nos barris favorece a troca de oxigênio que garantirá a complexidade sensorial do vinho e o seu sabor persistente.
Logo depois da degustação os visitantes são convidados a explorar a loja que expõe uma seleção dos melhores vinhos Florio. Obviamente, os preços oscilam de acordo com a safra dos vinhos, mas a minha sugestão é investir em um produto de enoteca como uma garrafa de Marsala mais envelhecido, já que o Marsala Fine você encontra na maior parte dos supermercados italianos. Depois é só reservar momentos de pausa para degustá-lo em companhia e lembrar da viagem pela Sicília. Se você comprar um Marsala Vergine Riserva combine-o com doces secos. Já o Marsala Rubino é o acompanhamento ideal para uma torta de chocolate.
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