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Vale a viagem.  A “ciambella” de Carpineto Romano

A influência da gastronomia na escolha de um destino turístico

Vale a viagem. Se estiver de passagem por Roma e puder fazer um bate e volta na província, anote o nome de Carpineto Romano, localizada a cerca de setenta quilômetros da capital e famosa pela sua “ciambella”. Você já visitou algum lugar tendo como principal motivação aquela gastronômica?

No meu caso, sempre tento conjugar arte e cultura com a descoberta da culinária local. Até porque acredito que a identidade de qualquer cidade esta intimamente ligada as suas tradições gastronômicas.

Ciambella Carpineto Romano

De norte a sul, a Itália esbanja diversidade gastronômica, resultado inclusive de contaminações culinárias. Se em cidades como Trieste a influência austro húngara é evidente, em Palermo, na Sicília, é impossível não pensar na ascendência áraba de vários pratos.

Definitivamente, a Itália nunca aderiu à homologação culinária. Basa pensar que aqui nasceu o movimento Slow Food em defesa da diversidade na agricultura e tutela de matérias primas e especialidades gastronômicas em via de extinção.

É verdade que cada vilarejo da região do Lácio possui suas próprias tradições culinárias.

Ciambella Carpineto Romano

No território conhecido como Ciociaria, na província de Frosinone e chamado assim em alusão à palavra ciocia, calçados utilizados pelos pastores, inúmeras cidades produzem um tipo de “ciambella”, rosquinhas doces ou salgadas, muitas vezes a base de vinho.

Carpineto Romano fica na província de Roma, antes da fronteira com Frosinone, e a sua “ciammella”, como é carinhosamente chamada em dialeto local, é o clássico exemplo de doce popular mas capaz de conquistar os paladares mais exigentes.

Hoje, a maioria dos produtos vendidos em supermercados na categoria “snack” ou lanche contêm aditivos exaltadores de sabor. A Ciambella de Carpineto Romano é um tipo de produto que assim que você provar terá dificuldades para parar de comer.  É viciante, mas não devido a qualquer truque.

Seus ingredientes são essenciais: farinha, água, azeite, sal, fermento e anis. O que torna a ciambella especial é a dupla técnica de cozimento. Assim como o tarallo, o biscoitinho originário da Puglia que conquistou a atriz Olivia Wilde e viralizou nas redes sociais, a ciambella ou rosca de Carpineto Romano primeiro é imergida na água fervente e, sem seguida, assada no forno a lenha.

Ciambella Carpineto Romano

Cada família guarda a própria receita, com pequenas variações. Mãos hábeis estendem a massa e transformam esse mix de ingredientes em uma rosca crocante, caracterizada pelo “nó”, a parte que une as suas duas extremidades. 

Na cidade de Carpineto Romano nasceu o Papa Leone XIII e na cidade todos contam que mesmo durante a sua permanência no Estado Vaticano ele exigia que colaboradores fosse até a sua cidade natal para comprar e levar até Roma a clássica ciambella.

Com o tempo, o passaparola ou boca a boca contribuiu com a popularidade da ciambella. Quem mora em Carpineto Romano costuma lembrar que décadas atrás havia sido organizado um show musical na cidade. O evento foi um grande sucesso de vendas e reuniu alguns dos cantores italianos mais populares. Jovens de diversas cidades vieram até Carpineto para assistir o show e, durante o evento, o artesão que comercializava a ciambella durante o evento foi aquele que mais faturou.

Hoje, ela é tão apreciada que acabou se tornando protagonista de fotos pelo mundo. Os descendentes de italianos residentes no exterior não são os únicos a tentar manter viva a tradição da ciambella carpinetana, tentando replicar a receita em terras longínquas.

Você pode comprar a ciambella em um dos vários “fornos” da cidade e ali vai notar algo insolito. É comum que quem vá até a cidade e compra a ciambella fotografe qualquer paisagem no exterior, emoldurando-a com a rosca salgada. Isso porque ela se mantém por diversos dias.

Super versátil, ela pode ser consumida com vinho, com leite, chá ou, simplesmente, sem nenhum acompanhamento.

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