
A Basílica de São João de Latrão em Roma. Por que vale a pena visitá-la
Existe um lugar em Roma que se pudesse falar, provavelmente te incitaria a abandonar a geração cabeça baixa e a erguer o seu olhar para um horizonte que supere a tele do seu celular. É a catedral de Roma ou a Basílica de São João de Latrão. Em italiano, San Giovanni in Laterano.
Basta olhar a sua fachada principal, de 1735 e decorada, no alto, com as gigantescas estátuas de Cristo e santos (cada uma com sete metros de altura), para entender que humanos são capazes de construir algo grandioso, quase sublime. Quase sempre está ali, ao nosso redor. Mas pela força do hábito, quase cotidianamente, a gente cruza com a beleza sem enxergá-la.
Quem parece notar a grandiosidade da catedral de Roma é a figura de bronze de São Francisco de Assis colocado na Via di Carlo Felice, na frente da igreja. Com as mãos para o alto, a estátua foi inaugurada em 1927 em ocasião do sétimo centenário do aniversário da morte do santo e relembra o momento em que ele chegou à capital para apresentar a ordem dos franciscanos. De uma certa maneira, São Francisco de Assis e as estátuas da Basílica de São João de Latrão parecem observar-se reciprocamente.
Tenho um carinho especial por essa área da cidade porque foi ali que morei, logo que me mudei para a capital italiana, e a Basílica de São João de Latrão é o símbolo mais emblemático do bairro de San Giovanni.
Apesar da Basílica de São Pedro ser a mais popular e frequentada por turistas do mundo inteiro, a catedral de Roma e sede episcopal do bispo da Cidade (o Papa) é San Giovanni in Laterano.
O edifício foi fundado no século IV por Constantino, o primeiro imperador romano a converter-se ao Cristianismo, e com o passar dos séculos foi reformada diversas vezes, mas preservando a forma da basílica original.
O monumento foi erguido poucos anos depois do fim das perseguições contra os cristãos e do chamado Editto di Milano ou Édito de Milão (313 d.c), documento que garantia a liberdade de culto.
O terreno onde foi erguido o monumento foi doado pelo imperador para agradecer a vitória na batalha de Ponte Milvio graças à visão das iniciais de Cristo, junto com a inscrição em latim “In hoc signo vinces” (“Com este sinal vencerás“).
Na verdade, San Giovanni in Laterano não é só a catedral, mas um complexo. Ao lado do edifício de culto fica o chamado Palácio Laterano. Antes que a sede do Papado fosse transferida para Avignon, na França, a partir de 1309, era ali que morava o pontífice. E se você quiser entender o por que dessa mudança de residência, depois do fortalecimento do poder real na França, não deixe de ler o post Anagni, onde o Papa foi “estapeado”.
Do lado oposto da rua fica uma das relíquias mais importantes do mundo católico, a Escada Santa ou Scala Santa, que teria sido percorrida por Jesus a caminho de seu julgamento, no alto do pretório de Pôncio Pilatos, em Jerusalém. A escada foi trazida à Roma sob ordens de Sana Helena, mãe do imperador Constantino.
Para quem não sabe, São João de Latrão é a basílica mais antiga do Ocidente. Francesco Borromini colaborou de maneira significativa com a sua decoração, mas outros grandes artistas também deixaram seus tesouros na Basílica.
Uma das obras mais importantes é o fragmento de afresco realizado por Giotto, representando o Papa Bonifácio VIII que anuncia o primeiro Jubileu da história, em 1300. Também não deixe de observar o baldaquino gótico sobre o altar papal, as estátuas dos apóstolos e o batistério octogonal com mosaicos do século V.
Outra beleza da basílica é o seu claustro de 1220, decorado com colunas retorcidas e mosaicos. Não há como não ficar fascinado diante da combinação entre fé e arte. E admitir que as estátuas que simbolicamente te convidaram para entrar na basílica tinham razão. São João de Latrão merece não uma mas várias visitas.
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