Sexto Sentido

Por que voltaremos a viajar pela Itália, assim que possível

Primeiro foi o efeito viral da música nas janelas e varandas. Em seguida, as imagens de monumentos do mundo todo iluminados com as cores da bandeira tricolor. A chegada de médicos voluntários estrangeiros para enfrentar a fase mais difícil da pandemia ao lado dos italianos. A declaração de solidariedade de personalidades internacionais, como Sting, Lady Gaga e Gilberto Gil, comovidos com a situação italiana. Uma leitora me perguntou: “nesse momento trágico, você percebeu o quanto a Itália é amada?”. Verdade! Já sabíamos que o país ocupava um lugar especial nas mentes e nos corações não só de quem já veio à Itália, mas também daqueles que ainda sonham em conhecê-lo.

Qual é o segredo ou que mágica combinação de ingredientes transforma a Itália em um país tão querido? Aqui, os motivos que me fazem pensar que aqueles que já visitaram o país, sem dúvidas, voltarão em breve. E  aqueles que ainda não vieram para cá, até agora, se apressarão para descobrir as suas maravilhas.

Para começar, a sua riqueza de tradições. Se a gente parar para pensar, a Itália são tantos países em um único país. Em milênios de história, seu território fragmentado foi ocupado e dominado por diferentes invasores, como o império Austro-Húngaro, a monarquia Bourbon, pelos normandos e até pelos árabes. Esse mesclar-se de culturas é visível ainda hoje na arquitetura, na gastronomia e nos costumes de suas vinte regiões.

Até mesmo durante o império romano, essa vocação multicultural e tolerante era mais que evidente. Os cidadãos romanos foram um dos grupos mais etnicamente e religiosamente diversificados da história moderna.

Só para citar um exemplo, Lucio Septimio Severo nasceu na atual Líbia. Era filho de um líbio e de uma europeia e o primeiro imperador romano originário do norte da África.

As peças desse quebra-cabeça começaram a encontrar-se em 1861, com a unificação da Itália, e o paradoxo é que apesar de reunir culturas milenares, formalmente trata-se de um país relativamente jovem. Sobre o sentimento de sentir-se parte de uma coletividade, uma das frases mais famosas é aquela do político Massimo D’Azeglio, que declarou: “Fatta l’Italia, bisogna fare gli italiani”. (Feita a Itália, é preciso criar os italianos).

No bem e no mal, o fio imaginário que unia o norte a sul era o amor pelo belo, em todas as suas formas. Basta pensar nos investimentos que mecenas como reis, senhores de ducados e até Papas dedicaram à pintura, à escultura, à arquitetura.

Sem a visão de que a cultura não era um bem supérfluo, hoje o mundo não poderia contemplar a beleza de pinturas como O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli ou A última Ceia, de Leonardo da Vinci. Não teríamos a chance de admirar a grandeza da cúpula de Brunelleschi no Duomo de Florença, as colunas que Gianlorenzo Bernini projetou para simbolizar um abraço na Praça de São Pedro, em Roma, ou ver a Piazza dei Miracoli do alto da Torre de Pisa.

Sem o amor pelo belo, os corredores dos Museus Vaticanos não seriam repletos de esculturas como o Laocoonte e Apollo del Belvedere. A Galleria Borghese não atrairia centenas de turistas a procura do mármore que ganha vida na escultura Rapto de Prosérpina. E os guerreiros dos Bronzes de Riace nunca teriam sido recuperados do fundo do mar.

O divino não teria sido cristalizado no mármore da Pietà, de Michelangelo. Nem nos pés sujos do peregrino da obra de Caravaggio que encanta na igreja de Sant’Agostino, na capital. A opulência não seria exaltada em cada ângulo de monumentos classificados como patrimônio da humanidade, como a Reggia di Caserta, na Campânia, ou Castel del Monte, na Puglia.

Sem a contribuição de personalidades como Dante Alighieri, hoje não cantaríamos versos de canções em uma das línguas mais melódicas do mundo. E se é verdade que os italianos também se comunicam com gestos, muitos deles de afeto, vale lembrar que aqui também nasceu a ópera lírica e que a teatralidade sempre fez parte da cultura do país. Que emoções provocariam palavras como aquelas de E Lucevan le stelle, “’...l´ora è fuggita, e muoio disperato! E muoio disperato! E non ho amato mai tanto la vita! Tanto la vita!” se não fossem cantadas com fervor, em italiano?

Sem a genialidade de italianos que arregaçaram as mangas, Veneza não teria sido construída sobre uma laguna (lagoa). Se a precisão não fosse uma característica dessa terra, você não fotografaria as colinas penteadas da Toscana, os vinhedos verticais que desafiam a natureza, em Cinque Terre, as curvas sinuosas da Costa Amalfitana ou os tetos cônicos realizados com rigor milimétrico dos trulli de Alberobello.

Se a dedicação à terra não fizesse parte desse país, você não teria a chance de saborear os melhores limões do mundo, os tomates mais saborosos, a mozzarella feita à mão, o gelato ou sorvetes artesanais realizados com fruta de estação, os vinhos que fazem parte de seus jantares ou o prosecco com o qual brinda momentos felizes com amigos. Não frequentaria cafeterias centenárias nem visitaria cantinas para degustar alguns dos melhores vinhos.

Sem a Itália não existisse não passearíamos por castelos que serviram de set para o cinema, como Rocca Calascio, ou por jardins que aprecem pinturas, como os Giardini di Ninfa. Se a Itália não existisse, convenhamos, o mundo seria mais triste. Basta viajar para cá e olhar ao redor para entender o por quê.

E se você também ama a Itália e quiser participar de um podcast coletivo, me manda o seu áudio para o WhatsApp + 39 3319137152 contando as suas melhores experiências ou lembranças do país? Vou adorar recebê-lo!

 

 

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