Rocca Calascio. Um dos castelos mais lindos do mundo fica no Abruzzo, Itália.

Uma das coisas que mais aprecio na Itália é a grande quantidade de lugares que você pode visitar gratuitamente. Monumentos, museus, parques, reservas naturais com paisagens potentes à disposição de todos.

Rocca Calascio, na província de L’Aquila, na região do Abruzzo (Itália central), é um dos cenários que você provavelmente já viu nas telinhas mas talvez nunca tenha associado à Itália.

Rocca Calascio protagonista da sétima arte

Além de ter sido protagonista de The American, com George Clooney, e Feitiço de Áquila (Ladyhawke), interpretado por Michelle Pfeiffer, várias cenas externas de um dos filmes cult do final da década de 80 – O nome da Rosa, baseado no romance de Umberto Eco – foram gravadas na Abadia de Eberbach, na Alemanha, em Castel del Monte, na Puglia, e em Rocca Calascio.

O enredo do filme traduzido em 40 idiomas recria os ambientes de abadias de 1327, lugares onde monges copiavam pacientemente à mão as obras mais importantes das bibliotecas, como os tratados filosóficos, médicos e literários, além de traduzi-los ou restaurá-los. A trama do filme baseia-se em uma série de mortes suspeitas de alguns monges.

A Rocca (em português, fortaleza, castelo) situada a 1460 metros de altura é considerada uma das fortificações mais altas da Itália.

Observando a imponência dessa construção medieval é até difícil acreditar que o monumento fica a menos de 170 quilômetros de Roma. Não por acaso, a revista National Gegraphic incluiu Rocca Calascio entre os 15 castelos mais lindos do mundo. Acredita-se que o castelo tenha sido construído a partir do ano 1000, mas o primeiro documento que cita o monumento é de 1380.

Rocca Calascio encontra-se no interior do Parco Nazionale del Gran Sasso e Monti della Laga e graças a sua posição estratégica inicialmente a fortaleza servia de torre para avistar inimigos e a partir do século XV, como lugar privilegiado e de grande valor econômico porque permitia o controle da transumância de ovelhas entre Campo Imperatore e a área conhecida como Tavoliere delle Puglie.

Entre famílias poderosas 

Nesse período a Rocca era uma propriedade da poderosa família Piccolomini, que acrescentou quatro torres cilíndricas à fortaleza, e graças a sua importância ao redor da Rocca começou a ser construído um pequeno vilarejo.

A fortaleza também passou nas mãos dos Medici – que pretendiam defender o movimento comércio florentino de lã – e em 1703 foi vítima de um terremoto que obrigou a comunidade que vivia ao redor do castelo a fundar um novo vilarejo (Calascio) a poucos quilômetros do castelo.

Apesar de pequeno, o burgo é gracioso e ainda mantém o aspecto de um lugar com um ritmo de vida slow. Para entender o espírito de Calascio basta ler o cartaz que fica na entrada da cidade: Attenzione, Rallentare. In questo paese i bambini giocano ancora per strada (Atenção. Devagar. Nesse vilarejo as crianças ainda brincam na rua).

Rocca Calascio tornou-se um burgo fantasma até que nos anos 90, graças a perseverança de um casal italiano, Paolo e Susanna Baldi, o lugar começou a ser revitalizado. O Abruzzo é uma região rude, de campos “roubados” entre as pedras para cultivar produtos como lentilhas ou onde pastam ovelhas.

Mudança de vida radical 

Paolo e Susanna não se amedrontaram diante das parentes dificuldades e trocaram Roma por Rocca Calascio. Ali construíram um restaurante e um refúgio onde alugam quartos, mountain bikes ou acessórios de esqui para turistas. Cresceram cinco filhos que mesmo em dias de neve acordavam muito cedo para estudar na capital do Abruzzo, L’Aquila.

Desde então, Rocca Calascio é sinônimo de renascimento cultural e basta percorrer os arredores do castelo para encontrar lojas de acessórios feitos a mão como Sii Unica, cujo proprietário, quem diria, tem parentes em Búzios, no Brasil, ou laboratórios de artesãos como a tecelã Roberta Denni. Com coragem, junto com Local Emotions ela promove laboratórios de tecelagem que duram 3h30 em inglês, italiano ou francês.

Nos arredores do castelo também fica Chiesa di Santa Maria della Pietà, uma igreja circular de 1596 não menos fotogênica que Rocca Calascio. Não por caso, nenhum turista perde a chance de fotografá-la.  Rocca Calascio pode ser um ótimo bate-volta saindo de Roma, mas a minha sugestão é que você aproveite a ida até o Abruzzo para explorar outros lugares interessantes na região e até agora pouco conhecidos. Quando em 2000 escrevi sobre Civita di Bagnoregio, poucos brasileiros conheciam o destino e hoje a cidadezinha é uma das mais visitadas do Lácio. O meu desejo é que Rocca Calascio seja a nova Civita di Bagnoregio. Vamos apostar?

Aqui alguns posts que já publicamos sobre o Abruzzo:

Mergulhando no verde-esmeralda do Lago di Sinizzo, nos Abruzos
Entre horta e cozinha o renascimento depois do terremoto nos Abruzos
L’Aquila quase 10 anos depois do terremoto. A capital dos Abruzos entre passado e futuro

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