Espetáculo da natureza: os tapetes floridos de Castelluccio di Norcia

Castelluccio di Norcia. Uma palavra comprida e composta para nomear um lugar que no mapa italiano é um píxel, um pontinho colorido que praticamente desapareceu depois do terremoto de 30 de outubro de 2016.

Apesar de sua pequena dimensão, o paese ou vilarejo mais alto do Appennino, a 1452 metros, sempre foi um dos protagonistas do Parque Nacional dos Montes Sibilinos, que estende-se entre as regiões Úmbria e Marche.

Todos os anos, entre os meses de junho e julho, milhares de turistas lotavam Castelluccio di Norcia para contemplar o triunfo de cores do espetáculo da Fioritura ou florada das lentilhas cultivadas naquela área.

Tudo isso até que o burgo fosse “engolido”pelo tremor da terra e transformado em detritos, em pó e em fuga de moradores e turistas. Por algum tempo as estradas para chegar até lá foram interditadas. Ainda hoje o centro de Castelluccio di Norcia é off-limits e cercado por cartazes onde a escrita  “zona rossa”indicam claramente que a circulação por ali é proibida.

Só que os antigos habitantes do vilarejo e produtores locais arregaçaram as mangas e continuam dedicando corpo e alma à plantação de lentilhas, símbolo e motor da economia de Castelluccio di Norcia.

Estive lá recentemente e nos arredores da cidade que não existe mais foram inaugurados poucas cafeterias/restaurantes e montadas barracas que vendem lentinhas e ensacados diretamente do produtor ao consumidor. No final de semana, o vilarejo voltou a receber centenas de visitantes e motociclistas que percorrem alegremente a estrada sinuosa que leva até Castelluccio di Norcia.

A viagem até lá é algo que você não esquecerá tão cedo. Assim que o seu olhar cruzar com os planaltos floridos de Pian Grande e Pian Perduto, emoldurados pelo céu azul do verão, a vontade é correr sem destino entre as inúmeras variedades de cores das flores de lentilhas.

Em Castelluccio di Norcia a natureza é ainda mais exuberante porque é imprevisível, e não pode ser completamente manipulada por humanos. Não é possível saber exatamente quando os campos floridos nos arredores de Castelluccio di Norcia atingirão o seu máximo esplendor, criando aquele efeito tapete colorido. Um verdadeiro espetáculo cromático e sensorial que enche os olhos e invade as narizes dos turistas que passam por lá.

Geralmente, o ápice do fenômeno acontece entre a última semana de junho e a primeira semana de julho, mas o clima incerto que caracterizou a primavera de 2019 acabou adiando a florada.

A data da semeadura e a intensidade das chuvas durante o inverno e a primavera também influenciam o calendário agrícola e, consequentemente, o aparecimento das flores.

Narcisos, violetas, margaritas, trevos, papoulas e outras espécies confundem-se com as pequeninas flores das famosas lentilhas de Castelluccio di Norcia, legume de prestígio que, em 1997, conquistou o reconhecimento europeu IGP (Indicação Geográfica Protegida). O amarelo intenso mistura-se ao vermelho, ao branco, ao verde intenso e ao delicado lilás, criando um efeito ótico mágico.

Para que todos possam escolher o momento mais propício para visitar o parque,  graças a um projeto de crowdfunding, no site www.castellucciowebcam.it você pode acompanhar o contínua mudança das cores de sua paisagens, já que a câmera produz timelapses diários da região e registra novas fotos a  cada cinco minutos. Se você for até lá, uma indicação importante é respeitar as flores e não pisar nelas para que todos os viistantes tenham a chance de contemplar o mesmo espetáculo.

A área do Parco Nazionale dei Monti Sibillini possui cerca de 70.000 hectares e em seu território ainda vivem animais como lebres e raposas, embora seja difícil observá-los durante o dia. Seu pico mais alto é o Monte Vettore (2476 metros) e uma de suas maiores atrações é o chamado Lago di Pilato e para quem é esportivo, o cenário é ideal para praticar trekking ou fazer um passeio a cavalo.

Para os fãs da sétima arte, vale a pena saber que no parque foram gravadas algumas cenas do filme Fratello Sole, Sorella Luna (Irmão Sol, Irmã Lua, 1972), de Franco Zeffirelli.

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