San Gregorio Armeno. A famosa rua dos presépios em Nápoles

Em nenhum outro lugar da Itália existe outro endereço que associamos imediatamente à arte dos presépios. San Gregorio Armeno é uma rua do centro histórico de Nápoles famosa por concentrar inúmeras lojas e laboratórios de artesãos italianos que realizam à mão os personagens do presépio, daqueles clássicos até os mais originais.

Nem todo mundo sabe que no passado, era nessa rua que existia um templo (onde hoje fica a Chiesa di San Gregorio Armeno) dedicado a uma divindade romana: Cerere (Ceres), deusa da agricultura, da fertilidade da terra, da colheita.

Os napolitanos tinham o hábito de fazer oferendas a essa divindade, como pequenas estátuas de terracota realizadas por profissionais dos arredores.

Para quem tiver interesse, em uma das salas do museu do Palazzo Venezia em Roma existe um grande afresco realizado por Giorgio Vasari que representa uma homenagem à Cerere.

A tradição de representar a Natividade através dos presépios começou a difundir-se em Nápoles a partir de 1700 e além de San Gregorio Armeno e do Museo Nazionale di San Martino, e em outros lugares da região da Campânia, como a Reggia di Caserta, os presépios são protagonistas de uma vasta seção expositiva.

Da Piazza San Gaetano você chega até o início de Via San Gregorio Armeno, dominada pelo campanário da igreja homônima, famosa pela sua arquitetura barroca. 

A rua é muito frequentada o ano inteiro, mas se a sua ida à Nápoles coincidir com os meses de novembro e dezembro, em proximidade do Natal, prepare-se para enfrentar multidões.

Você será transportado por centenas de turistas que não querem perder a chance de conferir a riqueza de detalhes dos personagens dos presépios de San Gregorio Armeno.

Em algumas históricas lojas-laboratórios como aquela da família Ferrigno (na altura do número 8, inaugurada em 1836) ou aquela dos Fratelli Capuano (número 28) ainda é possível assistir a criação de uma peça do presépio. Tudo rigorosamente feito à mão por hábeis artesãos. Desde as peças mais simples, como miniaturas, até aquelas mais sofisticadas, como damas vestidas com seda de San Leucio, com as mãos e pés de terracota e olhos de vidro pintados com grande precisão.

Percorrendo as vitrines da Via San Gregorio Armeno você terá a sensação de entrar em um mundo que mescla o sacro e o profano e que traduz perfeitamente o espírito da cidade. Napolitanos podem nutrir uma grande devoção por padroeiros como San Gennaro e, ao mesmo tempo, carregar no bolso amuletos contra o mau olhado.

Com essa mesma irreverência, ao lado de figuras como José, a Virgem Maria e do menino Jesus na manjedoura o presépio pode conter o clássico pizzaiolo pronto a colocar no forno una Margherita até personagens da política, da TV ou do show business.

Turistas e locais não resistem a uma parada estratégica para uma foto junto com a estátua de Pino Daniele (um cantor adorado em Nápoles), de Diego Maradona (ainda nas lembranças dos torcedores napolitanos), Totò (um dos maiores cômicos locais) e divertem-se observando as similaridades entre personagens e personalidades reais.

De uma certa maneira, as estátuas que encontramos em San Gregorio Armeno são aquelas de quem, no bem e no mal, fazem história. Donald Trump, o treinador da Azzurra, a família real britânica, o Papa ou Ghali, o rapper adorado pelos teenagers italianos são só algumas das figuras que confundem-se  em meio a pastores, ovelhas e uma estrela cometa.

San Gregorio Armeno é a máxima expressão da criatividade napolitana e merece tanto respeito como outras irrenunciáveis tradições gastronômicas locais de final de final e ano. Ir a pescaria para escolher pessoalmente o capitone (enguia) que será assado ou frito, preparar os struffoli, massa frita com mel, frutas cristalizadas e confeitos coloridos, o babà ao rum ou a sfogliatella. Ou você achou que ia voltar de Nápoles de estômago vazio?

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